sexta-feira, 23 de setembro de 2011

PENSAMENTOS ALTERNATIVOS



ALTA RODA - Fernando Calmon


O Salão do Automóvel de Frankfurt, o maior do mundo em área locada de exposição, inverteu o clima de pessimismo observado há dois anos em razão da crise financeira mundial. A feira estará aberta até este domingo, 25/9, e reflete um cenário de vendas mundiais de veículos em ascensão, embora no continente europeu os resultados não estejam bons, à exceção da Alemanha, o que ajudou a mostra.



Naturalmente, as marcas germânicas dominaram o ambiente. A começar pelo VW Up!, um subcompacto de quatro lugares, para disputar um segmento que crescerá muito. O modelo apresenta sofisticações, como frenagem automática e inteligente sistema multimídia portátil. Essa plataforma dará origem ao futuro carro de entrada da marca, substituindo o Gol IV, para cinco passageiros e com estilo próprio.

A Mercedes-Benz apresentou o novo Classe B, crossover de hatch e monovolume, com muitos equipamentos desérie inclusive sistema anticolisão. Sua arquitetura flexível vai gerar um hatch (Classe A), um utilitário esporte (SUV) compacto, um sedã-cupê e uma station. Atenções se voltaram ao carro conceito F-125 (alusão aos 125 anos da empresa), um elétrico muito avançado que associa bateria de íon-enxofre e pilha a hidrogênio para até 1.000 km de autonomia.

A BMW mostrou o compacto Série 1, mais espaçoso, e consolidou sua submarca para propulsão alternativa. O i3 elétrico está praticamente pronto com muita fibra de carbono para aliviar o consumo da bateria, enquanto o híbrido esporte i8 ainda demora dois anos. A Audi respondeu com o carro-conceito A2 que terá também motor elétrico e o estudo Urban Concept ainda em estágio primário, mas o esportivo R8 e-Tron surgiu em forma quase definitiva.

Fechando a ofensiva alemã, a Porsche exibiu o novo 911, mais baixo e longo, projetado para receber propulsão híbrida. Versões conversíveis de supercarros também tiveram vez: Mercedes-Benz CLS (teto de lona) e Ferrari 458 Italia (teto rígido), atraindo fãs fiéis do puro glamour.




  
Impressionaram a semelhança visual entre o novo Fiat Panda e o Uno brasileiro, de plataformas diferentes, além da nova linguagem de estilo da Ford realçada no Evos. Citroën DS5 confirmou o desenho audacioso da marca; a Renault contra-atacou com o conceito do que poderá ser um Kangoo no futuro; Smart também antecipou a evolução estética do microcarro (além da terceira geração elétrica); Mini cupê ampliou de forma criativa o desenho que parecia único.

Entre os SUV de maior porte, a maior surpresa foi o Maserati Kubang (materialização de um conceito do Salão de Detroit/2003). A Land Rover antecipou em quatro anos as primeiras formas do que, tudo indica, será o sucessor do icônico Defender.

 


Apesar da ênfase sobre elétricos e híbridos em Frankfurt, já há mais gente pensando que motores a combustão ainda vão evoluir e surpreender em emissões. Na Europa, por exemplo, 75% dos motores de carros novos utilizam turbocompressores (Classe B e A1, 100%). Como gerar eletricidade também emite gás carbônico (CO2), à exceção de usinas atômicas, podem acontecer surpresas e adiar para além de 2030 as chances de mínima consolidação do mercado de veículos elétricos a bateria.

RODA VIVA
 

AUMENTO significativo do IPI atingirá indistintamente todos os modelos não produzidos no Mercosul e México, mesmo que o fabricante já possua instalações industriais no Brasil. No fundo, o governo federal sabe que essa discriminação de imposto segundo a origem do produto contraria a Constituição. Resolveu correr o risco, em defesa do emprego industrial.

MAIS estranho é a taxação extra sobre importados vigorar até dezembro de 2012, embora a política de aumento da competitividade vá até 2016. Fica a dúvida se a medida pode ser revista ou a exigência de conteúdo de peças nacionais abrandada para quem quer fabricar no País. Casos da Chery e JAC, além da BMW que extraoficialmente já decidiu, mas pode desistir.


MERCEDES-BENZ SLS AMG roadster oferece rara combinação entre raízes históricas, estilo atual e desempenho ímpar. Inspirado no venerável 300 SL, de 1954, e suas portas no estilo de asas de gaivota na versão cupê, o conversível tem, claro, portas convencionais. O teto de lona se amolda à perfeição ao desenho do carro, além de subtrair apenas três litros do porta-malas.


GUIAR o SLS é uma experiência estonteante. O roadster tem capô longo e traseira curta. Sua largura exige atenção em estradas e ruas estreitas da Costa Azul francesa, Mônaco e pequenas cidades italianas na região. Motor V-8 de 571 cv e excitantes 66,3 kgf·m são exploráveis em todas as situações. Mesmo que por apenas alguns segundos.


EXISTEM quatro opções de controle das suspensões no SLS, combinadas a respostas de direção, acelerador e troca de marchas na caixa automatizada de sete velocidades formando um transeixo traseiro. O conversível é cerca de 10% mais caro que o cupê e terá 30% do mix de vendas (no Brasil, bem menos). A fábrica produz cerca de 1.200 unidades/ano.


Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.

Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.


fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon

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