ALTA RODA, Fernando Calmon
O que se
pode esperar de 2013 para o mercado automobilístico? Crescimento haverá, sem
dúvida, e as vendas alcançarão novo recorde – o sétimo consecutivo desde 2007.
A incerteza está se a barreira mágica de quatro milhões de unidades (inclui
caminhões e ônibus) será beliscada, atingida ou até superada. Para o resultado
mais otimista as vendas teriam que subir 5% em relação ao projetado para 2012.
Até agora a
maioria das apostas vai de 2% a 4%. A Anfavea espera algo entre 3,5% e 4,5% de
elevação, o que significaria 3,98 milhões de unidades. Historicamente há
relação entre crescimento econômico (medido pelo PIB) e o mercado de veículos.
Mas as previsões frustradas do ministro da Fazenda ajudam pouco, embora dessa
vez ele “garanta” um PIB superior em 4% ao deste ano. Se acontecer, os quatro
milhões de veículos novos circularão em 2013.
Independentemente
do que acontecer com a economia, há fatores positivos e negativos. Entre os que
puxam para baixo as previsões aparece justamente o ano que finda. As vendas
cresceram bem acima da expansão econômica brasileira graças à redução
temporária do IPI, que no fundo significou antecipação de compras. Mesmo que no
fraco primeiro trimestre de 2013 ainda exista um rescaldo do IPI baixo, seja
por estoques remanescentes de 2012 ou alguma bondade de última hora do governo,
o estímulo fiscal vai se diluir.
Não deverão
ocorrer tantos lançamentos que atiçam a demanda: de cerca de 40 deste ano
(importados incluídos), umas 20 novidades estão previstas para 2013. O maior
problema, no entanto, reside nos preços. Ao contrário da voz corrente, eles baixaram
em cinco anos quase 15%: basta consultar as tabelas médias desde 2008.
O valor real
dos carros, por sua vez, caiu ainda mais, por que a inflação desse período de
cinco anos (2012 incluído) foi de 34% e os compradores, em geral, acumularam
renda superior à inflação. Os preços só se comportaram em função de maior
concorrência, inclusive com importados, e imposto menor em alguns períodos.
A conjugação
dos astros, porém, será infeliz no ano de final 13. Além da volta do IPI, mais carros
deverão ter custos aumentados por equipamentos importantes como airbags e ABS.
Para complicar o cenário, o discutível rastreador virá como equipamento
obrigatório, mesmo que o motorista não deseje habilitá-lo. Trata-se de afronta
ao bom senso e ao bolso do consumidor, em especial de quem vive longe das
grandes cidades.
O impacto nos
preços, porém, pode ser arrefecido por se tratar do primeiro ano completo de
novos atores no mercado, como Hyundai e Toyota com fábricas a pleno, além de ampliações
de instalações da Renault e da PSA Peugeot Citroën. GM terá seu primeiro ano
cheio de renovação quase total de linha (só ficaram Celta e Classic) e,
igualmente, a Ford (manterá Ka e Fiesta Rocam). Fiat e Volkswagen provavelmente
sentirão esse tranco, pois só terão produtos novos em 2014.
Ocupar o
máximo possível da capacidade instalada, enquanto fabricantes entrantes não
concluem outra leva de novos produtos, pode ajudar a manter preços alinhados à
inflação estimada em 5% em 2013. Os que forem além, repassando aumentos de
custos sem estratégia equilibrada em mente, terão motivos para sérias
preocupações.
O bolo do
mercado ficará redividido e as quatro marcas veteranas continuarão a perder
participação. A melhor defesa continua a ser o menor preço ou oferecer mais por
preço igual.
RODA VIVA
CASO a nova lei pegue, também os
automóveis terão a terrível cadeia de impostos exposta na nota fiscal. Chegou o
momento de as tabelas sem tributos serem exibidas nas concessionárias, que
sempre acenaram com essa providência, mas recuavam na hora agá. É assim nos EUA:
imposto às claras. Aí as comparações de preços ficarão mais bem ajustadas.
ASSOCIAÇÃO de importadores sem fábricas
no Brasil, Abeiva, espera um ano de 2013 com crescimento de 17% sobre 2012. As
150.000 unidades previstas refletem as cotas que o governo criou tanto para as
marcas que só importam como as que anunciaram produção nacional. A Kia permanece
estacionada, pois o importador, Grupo Gandini, ficou, por enquanto, sem opções
viáveis que só a matriz na Coreia do Sul poderia resolver.
ONIX é compacto certo (R$ 35.000 a R$
42.000), na hora certa para a Chevrolet. Com motor adequado ao seu porte, 1,4
l/106 cv (o de 1 litro é fraco), destaca-se pelo nível de ruído mais baixo que
a média do segmento e atmosfera interior bem agradável. Espaço muito bom para
pernas, cabeças e ombros. Dava para dispensar banco do motorista tão alto e falha
ergonômica dos puxadores de portas.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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