ALTA RODA, Fernando Calmon
O maior
rigor da nova lei que pretende diminuir os acidentes causados por ingestão de
álcool é um passo adiante em direção de melhorar a vergonhosa posição que o
Brasil ocupa de mortes no trânsito. O País contabiliza cerca de 40.000
óbitos/ano, segundo o Ministério da Saúde, que monitora os casos fatais até 30
dias depois dos acidentes.
Aprovada em
urgência no Congresso e depois sancionada pela presidente Dilma Rousseff em
apenas 24 horas, a lei passou a vigorar nas vésperas do Natal em tempo de dar suporte
à fiscalização no período de trânsito mais pesado nas estradas. O valor da
multa para quem for flagrado com mais de 0,2 g/l (grama de álcool por litro de
sangue) dobrou, para R$ 1.915,40. Em caso de reincidência em 12 meses, dobra de
novo: R$ 3.830,80. A carteira de habilitação continua sendo suspensa por, no
mínimo, um ano. Substâncias psicoativas (remédios ou entorpecentes) também se
enquadram.
A chamada nova
lei seca – na realidade não é, pois ainda prevê alcoolemia bem pequena – criou
dificuldades para quem se recusar ao teste do bafômetro ou ao exame de sangue,
ao alegar produzir prova contra si mesmo, respaldado em interpretação da
legislação. Consideram-se válidas, agora, outras evidências.
Infelizmente,
as coisas não se resolvem de forma tão simples assim. A própria fiscalização,
em alguns locais, admite dúvidas no artigo 277 reformado, do Código de Trânsito
Brasileiro:
“O condutor
de veículo automotor envolvido em acidente de trânsito ou que for alvo de
fiscalização de trânsito poderá ser submetido a teste, exame clínico, perícia
ou outro procedimento que, por meios técnicos ou científicos, na forma
disciplinada pelo Contran [grifo da coluna], permita certificar
influência de álcool ou outra substância psicoativa que determine dependência.”
O Contran, ao contrário, afirma que é tudo autoaplicável.
Alguns
defendem que sem a lei se tornar seca de verdade, isto é, tolerância zero a
qualquer teor alcoólico no sangue, ninguém poderá ser preso em flagrante.
Precisa saber se o limite máximo de 0,6 g/l foi ultrapassado, o que constitui
crime de trânsito, não apenas infração. No caso de recusa do motorista, somente
médico ou perito atestariam o crime. Difícil de acreditar que em todas as blitzes
haverá um profissional com tal qualificação. Afinal, a Associação Brasileira de
Medicina de Tráfego estima em 32 milhões o número de motoristas que bebem e dirigem.
Como está,
porém, a nova regulamentação tem poder de desestimular a convivência de bebida
e volante. O valor das multas subiu bastante e continua o risco de prisão
imediata. O Contran, com certeza, acabará resolvendo as dúvidas técnicas. Já os
juízes darão a palavra final se o motorista bêbado poderá se amparar no
preceito de autoincriminação. Prova testemunhal seria uma exceção em nome do
bem comum?
Bafômetro
individual tornou-se obrigatório para motoristas na França. Difícil saber se a
exigência um dia chegará ao Brasil. Tomara que não. Mas, para quem desejar ter
um, na internet existem sites que os vendem por R$ 59,00. No caso do aparelho, o
limite legal, para multa, é de 0,1 mg de álcool por litro de ar alveolar (dos
pulmões) e de prisão, acima de 0,3 mg/l.
RODA VIVA
VOLTA do IPI às alíquotas altas de
sempre será escalonada de janeiro a junho de 2013, como era fácil de prever e a
coluna antecipou. Trata-se apenas de repetição de filme já visto. Decisão do
governo federal pode distribuir melhor as vendas, ao longo do próximo ano. Elas
tenderiam a afundar em janeiro e emergir somente bem depois do Carnaval.
NOVO regime automobilístico começou a
“convencer” empresas a aumentar investimentos. Fiat, por exemplo, havia adiado
sem prazo, mas anunciou agora R$ 500 milhões para unidade de motores em Goiana
(PE). Produzirá em 2015, um ano depois da fábrica principal. Outras seis
fábricas de motores estão a caminho: Ford, GM, PSA Peugeot Citroën, Mitsubishi,
Toyota e VW.
QUEM dispuser de R$ 300.000 se sentirá
realizado com os 306 cv do novo BMW 335i. Sem abrir mão do extremamente suave
motor 6-cilindros em linha (turbocompressor de dupla voluta) e câmbio
automático 8-marchas, permite selecionar se desafia ou será desafiado ao toque
de um botão. Mas também pode escolher condução suave e de certa forma
econômica.
TERMOS repetidos amiúde, como injeção
direta de combustível, precisam de explicação. Sistemas comuns são de injeção
indireta, com baixa pressão, no coletor de admissão. Injeção direta, sempre de
alta pressão, feita nas câmaras de combustão, aumenta potência e corta consumo,
a preço alto. Todas, porém, são gerenciadas eletronicamente.
ENTRE as razões de os preços terem
caído nas oficinas de concessionárias está a forte concorrência dos autocentros.
Mas não só. Companhias de seguro (Porto Seguro, por exemplo) ou fabricantes de
pneus (Car Club, da Firestone) têm investido bastante na chamada manutenção
leve e média por preços bem competitivos, sem contar redes das autopeças, como a
da Bosch.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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