terça-feira, 20 de agosto de 2013

AR COMPRIMIDO MOSTRA SUA FORÇA


Fernando Calmon


Veículos híbridos tendem a avançar por ser o meio-termo viável entre motores a combustão e puramente elétricos. Suas vantagens principais são custo menor e redução de emissões tóxicas (CO, HC e Nox) ou não (CO2, o gás carbônico). Maior eficiência se dá em cidade, onde o consumo de combustível é alto.

Há vários graus de hibridização: micro (desliga-liga), média (alternador reversível), total com bateria (série, paralelo e combinado) e total plugável em tomada. Agora, existe uma sétima opção, baseada em tecnologia conhecida e aplicada, de modo tímido, em veículos pesados de uso intensivo no para-e-anda.

Batizado de Hybrid Air, é aposta da PSA Peugeot Citroën para 2016/17. Na realidade combina motor a combustão tradicional, caixa de câmbio automática de variação contínua e sistema hidropneumático. Este se compõe de motor hidráulico (reversível em bomba) e dois reservatórios de ar de alta pressão (250 bar) e baixa pressão.

Funcionamento do híbrido-ar não é tão simples de explicar. O motor hidráulico pressuriza em 10 segundos o reservatório de ar, que faz o papel de armazenador de energia. Quando o motorista pisa no acelerador para tirar o carro da inércia, o ar liberado empurra o fluido na caixa de câmbio e o carro se movimenta, sem utilizar combustível, por 300 a 500 metros.

Simples ato de tirar o pé do acelerador e frear, no trânsito pesado do dia a dia, implica transformar energia cinética em hidráulica, que volta a acumular ar no reservatório. Assim, se supera a situação em que o motor a combustão é menos eficiente: ao arrancar. No ciclo urbano europeu de aferição, economia pode chegar a 45%. Quando a velocidade aumenta, o sistema a ar, cujo motor hidráulico gera 40 cv, pode atuar de modo simultâneo. Nas acelerações vigorosas, como qualquer híbrido, funciona apenas o motor a combustão – no caso a gasolina, afinado para baixo consumo – que também ajuda na pressurização.

Administração dos três modos de funcionamento (a ar, a combustão e simultâneo) é feita de forma eletrônica, sem interferência do motorista.

Cálculos iniciais apontam que a autonomia média (cidade, estrada e misto) pode chegar a 34 km/l e emissão de apenas 60 g/km de CO2. Como referência, a média obrigatória da frota de veículos leves europeia, em 2020, será de 95 g/km de CO2 (em 2015, 130 g/km). Imposto é menor para modelos abaixo da meta e maior se estiver acima. Para relembrar, não existe meio de controlar o gás carbônico sem reduzir o consumo de combustíveis fósseis (gasolina, diesel e gás). No caso de biocombustíveis, como etanol, há compensação de CO2 durante crescimento das plantações.

Além de fácil de instalar em veículos compactos e médios, sem complicações de peso, volume e reciclagem das baterias, o híbrido-ar pode ser produzido a custos razoáveis em qualquer parte do mundo. Depois de desenvolvido, o grupo francês deverá fabricá-lo também no Brasil com motor flexível etanol-gasolina.

Entretanto, ainda existem céticos sobre a viabilidade do projeto, que inclui parceiros de peso como Bosch e Faurecia. Há dúvidas sobre o preço final, apesar de o motorista ganhar câmbio automático nesse pacote. Exige ainda investimentos para redução de ruídos gerados pelo processo de pressurização.

Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV. 

Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.

fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon

Um comentário:

  1. O veículo a ar comprimido no Brasil têm uma grande barreira, nossos governantes deixando ser pressionado por políticos envolvidos no mercado petrolífero, além de investidores internacionais que ameaçam tirar seu dinheiro do mercado Brasileiro isso é um pensamento medíocre e egocêntrico, pois poucos são enormemente beneficiados, enquanto eu muitos somos forçados a comprar diesel ou gasolina em um preço altíssimo pra mantê-los.

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