terça-feira, 27 de agosto de 2013

HYUNDAI HB20S 1.0: UM BOM BARÍTONO





No estudo do canto, a voz humana é classificada de acordo com as notas que consegue atingir. Mulheres que têm vozes agudas são sopranos; as que têm vozes médias são mezzo-sopranos; e as que têm vozes graves são contraltos. Homens, por sua vez e seguindo o mesmo princípio, podem ser tenores, barítonos ou baixos. Por definição, as vozes médias são mais versáteis: ao mesmo tempo que alcançam notas graves, têm brilho e beleza nos agudos.

Calma, você não está lendo um artigo sobre música. Quer dizer, um pouco. Quem gosta de carros sabe que o ronco de um motor pode ser tão harmonioso e prazeroso quanto uma boa ópera (ou, no pior dos casos, soar como a Joelma). O Hyundai HB20S 1.0 é um desses carros cujo motor não produz um ruído, mas uma música afinadinha que provoca um sorriso a cada acelerada.



O motor Kappa é uma joinha tecnológica. Todo de alumínio, flex, com 998 cm³ de cilindrada, 4 válvulas por cilindro, duplo comando variável de válvulas no cabeçote acionado por corrente, taxa de compressão de 12,5:1 e - aí está o segredo - 3 cilindros. Por causa da forma como gira o virabrequim, a frequência do ruído de escape é semelhante à de alguns motores com 6 ou 12 cilindros.

É 1.0, não vamos esquecer, e por isso não é nenhum foguetinho. Mas surpreende. Essa tecnologia toda gera potência de até 80 cv a 6.200 rpm e torque de 10,2 kgfm a 4.500 rpm no Kappa, suficientes para levar o Hyundai de 0 a 100 km/h em 13,83 segundos. E como a maior parte da força chega com o giro lá em cima, é especialmente gostoso ouvir o motor cantando agudo nas acelerações. O melhor é que mesmo com o pé embaixo ele é econômico: a média obtida em percurso misto, medida tanque a tanque, foi de 9,9 km/l de etanol.





No ambiente urbano o HB20S 1.0 guarda bastante semelhança com a versão hatch quanto à dirigibilidade. Ágil e compacto, ele enfrenta asfalto ruim e tráfego com suavidade e precisão. Outra vez o trabalho da Hyundai no motor merece elogios, já que, pela configuração, ele poderia vibrar muito mais, o que não ocorre. Mas o trio suspensão x direção x câmbio também trabalha afinado como os 3 tenores. Na estrada, por sua vez, o sedã apresenta a mesma tendência a oscilações em velocidade que o HB20S 1.6, potencializada pelo uso de rodas menores e pneus mais finos (175/70 R14). Melhor seguir Moderato para garantir o conforto.




Não houve piora na qualidade do acabamento, mas há diferenças pontuais em relação à versão de topo. O volante perdeu o revestimento de couro, o aplique na seção central do painel é padrão grafite em vez de alumínio, os bancos têm revestimento escuro em vez de cinza claro, a alavanca de câmbio perdeu o aplique laqueado brilhante no topo e o painel é monocromático em vez de bicolor. Também houve perda de equipamentos. Os vidros elétricos só têm one-touch para o motorista (só para descer) e não há mais sensor de estacionamento ou crepuscular.




Mesmo assim, a lista de itens de série do HB20S 1.0 Comfort Style, como o testado, não é pobre. Ar condicionado com filtro de cabine, direção hidráulica, volante multifuncional ajustável em altura e profundidade, vidros elétricos nas 4 portas, retrovisores com ajuste elétrico e piscas embutidos, travas elétricas e alarme com controles na chave canivete, banco do motorista com ajuste de altura, abertura interna do porta-malas e do bocal do tanque de combustível, porta-garrafas nas portas dianteiras, gaveta sob o banco do motorista, porta-óculos, sistema Isofix® no banco traseiro, sistema de áudio com rádio, entrada USB e Bluetooth®, computador de bordo, airbag duplo, faróis de neblina, rodas de liga-leve com aro de 14 polegadas e ABS com EBD. A Hyundai usa esta lista como parte da justificativa pelo alto preço cobrado pelo sedã: R$ 42.095,00. O modelo testado, com pintura metálica, custa R$ 1.045,00 a mais. E a versão "básica" não sai por menos que R$ 38.995,00. O plano de revisões até 60.000 km custa hoje R$ 1.624,96 e a garantia é de 5 anos sem limite de quilometragem.




Design e status, aparentemente, complementam a justificativa. Mas há sedãs maiores, mais potentes e igualmente equipados na mesma faixa de preço. Racionalmente, portanto, não é um bom negócio. Por outro lado, nenhum outro carro nesta faixa de preço oferece uma relação custo x prazer ao ouvir o motor tão atraente. É só pensar que o modelo com motor de 6 cilindros mais "acessível" no país custa quase 3 vezes o valor do HB20S 1.0 para entender por quê ele pode ser uma boa opção.

O Hyundai HB20S 1.0 é barítono. Fala grosso, mas canta bem nos agudos. E música erudita não é só ópera dramática; há beleza nas obras suaves e melodiosas.

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