quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

JAC J3 COM 100 MIL KM - AVALIAÇÃO



Uma das barreiras mais difíceis de vencer é a do preconceito. Um dos principais motivos é que, no mercado de automóveis tanto quanto no âmbito social, o preconceito é generalista. Não raro, os mesmos defensores da ideia de que carros bons são só os da marca x ou y são os que bombardeiam quaisquer modelos chineses com adjetivos como 'bomba' e 'lixo'.


A iniciativa da JAC Motors de disponibilizar unidades com mais de 100 mil km para avaliação, longe (ou não) de tentar ser um tapa com luva de pelica em quem critica os carros da marca sem conhecê-los, é pioneira e admirável. Afinal, se tiverem a devida manutenção e as revisões em dia, é justo colocar qualquer carro chinês no mesmo balaio? Além disso, é válida a comparação com outros modelos de mesmo segmento e quilometragem igual?

Concluímos, depois de rodar por uma semana e cerca de 1.000 km com um JAC J3 2012 com quase 105.000 km no hodômetro, que não é justo e que sim, a comparação é válida. Adquirido normalmente por um comprador do Nordeste e tendo todas as revisões obrigatórias devidamente realizadas na rede autorizada, a unidade com placa de Fortaleza (CE) foi recomprada pela marca e colocada à disposição dos jornalistas para avaliações nos mesmos moldes das que são feitas com modelos recém-lançados. O J3 foi avaliado na cidade, com e sem trânsito, e na estrada, vazio e carregado, a maior parte do tempo com o ar condicionado ligado e com checagens frequentes do funcionamento de todos os equipamentos disponíveis.



Não surpreendeu que o J3 não estivesse esteticamente perfeito e apresentasse alguns detalhes comuns a carros com essa idade e quilometragem. A carroceria apresentava arranhões menores em portas e para-lamas, bem como alguns mais profundos no para-choque traseiro bem ao lado da caixa de roda esquerda. O verniz das lentes dos faróis também estava desgastado, problema causado provavelmente pela maresia típica de cidades litorâneas como Fortaleza, mas sem prejuízo na iluminação. Fora isso não verificamos qualquer indício de desalinhamento das chapas nem dificuldade para fechar e abrir portas, capô ou tampa do porta-malas.


Moldura plástica à esquerda do volante apresentou desalinhamento...

...bem como tampa do porta-luvas

Tivemos ainda dificuldade para ajustar a coluna de direção: a alavanca estava dura demais, difícil de destravar. No painel, a moldura plástica à esquerda do volante que abriga botões para ligar faróis e lanternas de neblina bem como para ajustar a altura do facho dos faróis principais estava desalinhada, mesmo problema encontrado do outro lado, na tampa do porta-luvas - que, apesar disso, não apresentou ruído. Os bancos, por outro lado, mantiveram boa aparência, estavam bem fixados e sem sinais de desgaste.

O JAC J3 é empurrado por um motor 1.4 16v VVT a gasolina que desenvolve 108 cv e 14,1 kgfm de torque a 4.500 rpm. Ao volante ele manteve a competência e rodou macio, sem ruídos atípicos ou anormalidades no funcionamento de suspensão, direção ou freios. O desempenho geral agradou e o hatch se mostrou muito bem amaciado. O ar condicionado continuou superdimensionado como em qualquer JAC, todos os controles funcionaram bem e o consumo de gasolina permaneceu baixo. Mas queríamos checar com mais minúcia o estado geral do carro, motivo que nos levou à StopScap, em Valinhos, para uma avaliação mais profunda.



Segundo a StopScap, havia uma trepidação leve nas pinças de freio e na caixa de direção, mas coisa só percebida com o uso de ferramentas. Pastilhas e correias foram trocadas dentro dos prazos pré-estabelecidos pela marca, concluíram, e também cogitaram a troca de uma coifa no semi-eixo direito, já que havia algum acúmulo de graxa mas não foi constatado nenhum vazamento. No cofre do motor nenhuma irregularidade foi anotada além de um pouco de fluido de direção hidráulica acumulado na tampa do reservatório. "Não é incomum", disseram. "É provável que tenha ocorrido pela pressão da própria bomba da direção hidráulica. Muitos carros apresentam esse acúmulo. Porém, é interessante verificar, numa próxima revisão, a vedação do reservatório e solicitar, se necessária, a troca." Por enquanto, apesar disso, a tampa estava bem encaixada no reservatório e não havia qualquer dificuldade para esterçar o volante.


Havia fluido de direção hidráulica na tampa do reservatório, bem como acúmulo de graxa no semi-eixo direito, mas nenhum vazamento constatado

"Já recebemos aqui outros chineses, mas nenhum da marca. Nunca tínhamos olhado de perto nem dirigido um JAC. Ele surpreendeu, especialmente pela dirigibilidade parecida com a de um carro novo e por não apresentar ruído estrutural nenhum, nada solto. Está melhor do que a maioria dos carros que recebemos aqui, inclusive com menos quilometragem. E anda bem, aliás."

O depoimento ilustra de forma concisa o relatório que recebemos ao final do test-drive e da inspeção. Ainda que pequenos detalhes tenham sido percebidos, nenhum destes interferiu, como nós e os especialistas percebemos, na dirigibilidade do carro e foram também considerados absolutamente normais para um carro com 105 mil km e 3 anos de uso.

Não dá para fechar os olhos à realidade da desvalorização absurda que modelos chineses enfrentam no mercado. A cotação da tabela FIPE revela o valor de R$ 23.188,00 para o JAC J3 2012, com preço mínimo atingindo R$ 17.350,00 em sites de compra e venda de usados. Para se ter ideia, o Fiat Palio Essence 1.6 2012, que tem nível semelhante de potência e equipamentos, atinge R$ 30.242,00 na FIPE com preço mínimo de R$ 27.300,00, enquanto o Renault Sandero Privilége 1.6, só para citar outro modelo que também desvaloriza mais que os concorrentes, chega a R$ 28.186,00 na FIPE com preço mínimo de R$ 27.900,00.



Por outro lado será difícil encontrar um carro com 3 anos de uso e tamanho nível de equipamentos de conveniência e conforto por este preço. Só para lembrar, todo JAC J3 2012 tem, de série, ar condicionado, direção hidráulica com ajuste de altura, vidros elétricos nas 4 portas, travas e retrovisores com ajuste elétrico, rádio com CD/MP3 player, ajuste de altura dos faróis, faróis de neblina, rodas de liga leve, sensor de estacionamento traseiro, ABS e airbag. E ainda mais 3 anos de garantia vigente.

Quem vê carro exclusivamente como bem de consumo tem no JAC J3, portanto, uma ótima escolha. Comprovadamente resistente e durável, desde que - como qualquer carro - a manutenção periódica seja mantida em dia, é ainda boa pedida para enfrentar o trânsito urbano e viagens curtas com conforto, comodidade e economia de combustível. Apesar do que diz a placa, e com o perdão do trocadilho, mesmo com mais de 100 mil quilômetros rodados o "usadinho" que avaliamos não parece tão old.

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