O Peugeot 2008 é um modelo, de certa forma, injustiçado. Mesmo sendo um bom carro, e a gente gosta bastante dele, é um dos menos vendidos do ranking, com média de menos de 900 unidades por mês entre janeiro e outubro - o Honda HR-V, mais vendido do segmento, emplaca quase 4.000 a cada mês. Mas mesmo com qualidades - ele é bonito, bem acabado e bem servido de equipamentos - seu problema é conceitual.
Falando primeiro do que é bom, o ambiente interno do 2008 cativa. Tudo é muito bem encaixadinho, sem rebarbas. O layout interno é bem bacana e moderno, enquanto as texturas dos plásticos combinam bem: tem acetinado, cromado e black piano na medida e nos locais certos. Algumas soluções ainda são exclusivas no segmento, como o volante oval, os mostradores visíveis acima deste, a alavanca do freio de mão com formato diferentinho e o teto panorâmico, que deixa a cabine bem iluminada e ainda mais legal.
A ergonomia passeia entre o bom e os erros de projeto. Os bancos, por exemplo, são excelentes e bem revestidos, a pega do volante é primorosa e, de forma geral, os comandos são bem acessíveis. Mas os comandos elétricos dos vidros só têm one-touch para o do motorista. Já os porta-objetos das portas ficam muito à frente e abaixo dos puxadores, enquanto os porta-copos no console central, além de rasos, deixam uma garrafa de 500 ml, por exemplo, à frente dos comandos do ar-condicionado. Por fim, deveria haver mais nichos para acomodação de tralhas.
Essa falta de praticidade acaba trazendo à tona a principal fraqueza do 2008: ele é pequeno. SUVs substituíram junto ao público peruas e minivans, e, por isso, precisam ser práticos e suficientemente espaçosos para famílias. Dentro do 2008 vão bem 4 ocupantes de estatura média. Se forem 5, passarão aperto. E se os ocupantes da frente forem grandes, atrás só irão crianças. As malas também precisam ser médias. Vá lá, os 355 litros de capacidade ganham dos pífios porta-malas de Tracker (306 litros) e Renegade (283 litros), mas perde por pouco do EcoSport (362) e de longe de Creta (431), HR-V (437), Kicks (432) e Captur (437).
O bom é que, à parte os deslizes, quem viaja no 2008 desfruta de bastante coisa boa. O ar-condicionado é digital e dual zone, enquanto a central multimídia, que faz barulhinhos bem legais e espelha smartphones, é intuitiva, clara e fácil de operar. A qualidade sonora é adequada, o isolamento acústico é bem bom e, outra vez, a sensação de refinamento que o teto panorâmico traz é bem superior à de um teto solar comum. Há ainda sensores de luz e chuva, sensor de estacionamento com câmera de ré e, pensando na segurança, airbags frontais, laterais e de cortina.
O 2008 também é muito bom de dirigir. É bem interessante o acerto que a Peugeot conseguiu para o SUV, tornando-o macio para enfrentar imperfeições do piso sem que isso signifique sensação de fragilidade, e ao mesmo tempo firme na medida na estrada, com a direção assumindo peso milimetricamente correto para curvas. Como a posição de dirigir é muito boa, com regulagens do banco (altura, distância e encosto) e volante (altura e profundidade) amplas o suficiente para acomodar até gente do meu tamanho, ele se torna boa companhia tanto para rodar no dia-a-dia quanto pras viagens.
Mas a principal mudança no carro é realmente o câmbio. O anterior, de 4 velocidades, era meio bipolar, indeciso e dava trancos nas reduções. Esse ficou bem mais suave e aproveita melhor a força disponível no motor 1.6 16v de 122 cv e 16,4 kgfm de torque com etanol. Mas não pense que há milagre, porque o carro não é leve: são 1.236 kg, quase 100 a mais que um Kicks. Ele acelera e retoma velocidade de forma adequada para uma condução segura, mas ideal mesmo seria ter esse mesmo câmbio atrelado ao motor 1.6 THP.
Daí a gente volta à questão dos erros conceituais. Ter transmissão automática, automatizada ou CVT é hoje condição sine qua non para que um SUV venda bem, especialmente nas versões topo-de-linha. Esta, a Griffe, pode ter motor 1.6 16v aspirado com o novo câmbio automático de 6 marchas ou 1.6 THP com câmbio manual - segundo a Peugeot, é tecnicamente impossível atrelar o motor turbo à transmissão automática neste modelo. Por isso, mesmo que o 2008 seja gostoso de dirigir, bem acabado, bem equipado e barato - a versão que testamos custa, incluindo a cor metálica Marrom Dark Carmin, R$ 86.480,00 (ou R$ 89.990,00 com motor turbo e sem pintura metálica) -, você leva desempenho OU comodidade, nunca os dois. E isso provoca migração de consumidores para outras marcas.
COMPENSA?
É um bom carro, sem dúvida. A gente gostou bastante dele. Mas num mercado tão competitivo esses erros de projeto acabam frustrando um pouco as expectativas de quem quer um carro familiar topo-de-linha. Se não é o seu caso - mesmo que o nome "Griffe" o induza a pensar numa versão de topo -, você não precisa tanto de espaço, não liga muito pra desempenho e quer gastar um pouco menos, o 2008 Griffe AT6 pode ser o seu número.
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