Neste novo mundo cheio de SUVs, só duas marcas arriscam manter no mercado minivans compactas com apelo aventureiro: a GM, com a Spin Activ, e a Citroën, com o AirCross, que a gente avaliou por uma semana na versão Shine, topo-de-linha. A diferença é que a francesa eliminou todas as outras versões não-aventureiras e manteve só esta no mercado, numa tentativa de atender a dois tipos de consumidores com um só produto.
Faz algum sentido sob o ponto de vista prático da coisa. Não é mais o tipo de design que está no topo da preferência do consumidor, mas o AirCross consegue ser mais espaçoso que muitos SUVs graças ao perfil quadradão de sua carroceria, amenizado por cantos arredondados. A ressalva vai para a acomodação do passageiro do meio no banco traseiro, que apesar de ter espaço de sobra para a cabeça e pernas não acomoda as costas tão bem por causa do ressalto no banco. O porta-malas, pelo menos, oferece bom espaço: 403 litros.
Na frente a coisa muda de cara. Os bancos dianteiros, aliás, estão entre os mais confortáveis que já experimentamos, na versão de topo revestidos parte em tecido e parte em couro, com textura e aparência agradáveis. Mas se há espaço de sobra, a ergonomia deixa a desejar em muitos aspectos. Encontrar uma posição de dirigir mais confortável não é coisa complicada, desde que o condutor não se esqueça que está numa minivan e que vai se sentar mais alto mesmo. Mas a alavanca do freio de mão, que poderia acompanhar a posição de dirigir, está lá embaixo, no assoalho, e é preciso ainda subir o apoio de braço pra deixar o acesso menos difícil.
Outra falta que sentimos é de mais intuitividade na central multimídia, cuja tela fica ainda longe dos dedos - a culpa é do painel de linhas clean e reto demais. Deixam ainda a desejar os comandos satélites, cujas funções exigem algum tempo até que o motorista se acostume com elas - várias funções poderiam migrar para botões no volante. Essa coisa de manter o estepe pendurado na tampa do porta-malas também atrapalha as coisas, já que o processo de abertura do compartimento e colocação de volumes lá dentro depende de mais espaço atrás e mais paciência de quem abre. Finalmente, a Citroën poderia ser mais cuidadosa com o acabamento. O design da cabine é bacana ainda, mas tudo é plástico - alguns apliques metálicos ou da cor do carro tentam disfarçar a frugalidade do revestimento, mas sem muito sucesso.
O AirCross tem, porém, seus trunfos. A versão que avaliamos traz, de série, uma lista de itens de conveniência interessante pelo preço que a Citroën pede: ar condicionado automático digital, câmera de ré, cruise-control, sensor de estacionamento traseiro, sensores crepuscular e de chuva, volante revestido em couro, central multimídia, banco do motorista com regulagem de altura, coluna de direção regulável em altura e profundidade, banco traseiro bipartido, cintos de segurança de três pontos e encostos de cabeça para todos os ocupantes, computador de bordo, direção elétrica, faróis de neblina, DRLs, porta-luvas refrigerado, rodas de liga leve com aro 16, vidros, retrovisores e travas com comandos elétricos.
COMO ANDA
É bom manter em mente que o AirCross, apesar do apelo visual aventureiro, não tem esse DNA. É confortável e pronto, sem espaço para esportividade. A suspensão, para começar, é daquelas que filtra imperfeições como muito carro mais caro não faz, mas permite que a carroceria se incline mais do que a gente gostaria nas curvas. Manobras são feitas com uma facilidade incrível - sim, é a direção mais leve que já passou por nossas mãos, sem que isso signifique moleza excessiva em velocidade: ponto para a Citroën. Motor que funciona lisinho e bom isolamento acústico garantem o silêncio na cabine, o que evidencia ainda mais a boa qualidade do sistema de som.
Falando em motor, a marca o recalibrou para torná-lo mais econômico e isso tirou dele alguma força: agora são 118 cv e 16,1 kgfm. A adoção da transmissão automática de 6 marchas compensa um pouco essa perda, mas fato é que o AirCross continua lento, com aceleração de 0 a 100 km/h em tempo superior a 13 segundos. Vantagem é funcionar de maneira extremamente suave, sem trancos em trocas ascendentes ou reduções. Olha a coisa do conforto aí outra vez.
Por ser familiar, porém, poderia trazer mais itens de segurança. Encostos de cabeça e cintos de 3 pontos estão lá pra todos, bem como controlador de velocidade e sensor de estacionamento com câmera de ré. Mas é só. Faltam mais airbags - só há os 2 obrigatórios -, Isofix, controles de tração e estabilidade.
COMPENSA?
A lista de itens de conveniência é boa, mas os R$ 76.700,00 pedidos por esta versão (com mais R$ 1.790,00 da pintura perolizada) parecem muito para um público cada vez mais exigente de segurança e tecnologia. Essa defasagem, e não o perfil da carroceria, pode ser tida como a principal motivo da queda contínua nas vendas. Afinal o AirCross continua prático, espaçoso e, por que não, cool. Mas tem muito pra melhorar.
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