Um dos hatches compactos mais legais do mercado é o Peugeot 208. Com dinâmica apurada, bom acabamento, design moderno e que demora a envelhecer, desempenho parelho ao da concorrência e lista de itens de série interessante desde a versão de entrada, a gente se pergunta por que ele ainda patina nas vendas, estando sempre longe dos primeiros colocados. Ficamos com um 208 Griffe por uma semana pra tentar entender o que faz o consumidor fugir deste Peugeot e preferir outros compactos.
Na linha 2018 ele ganhou novo câmbio automático de 6 marchas, que foi a principal alteração mecânica das versões com motor 1.6 16v. Neste, houve ainda uma recalibragem que trouxe a potência e o torque um pouco mais pra baixo - eram 122 cv e 16,4 kgfm, agora são 118 e 16,1. Mas a transmissão, que oferece trocas manuais pela alavanca, tende a compensar um pouco essa perda ao gerenciar melhor a força. A gente não sentiu perda de desempenho, pelo contrário: ele manteve a agilidade e agora tem trocas mais lineares e suaves. A antiga transmissão era bipolar, ora deixando as trocas suaves, ora presenteando os ocupantes com trancos, além de manter o carro mais amarrado.
Mas não foi só isso. A central multimídia está melhor, ganhou espelhamento para smartphones via Android Auto ou Apple CarPlay, e pelo Android até o Waze pode ser espelhado. Além de ter tela de ótimo tamanho para as dimensões da cabine, fica em posição ergonômica, bem no alto do painel, o que diminui bastante a possibilidade de o motorista tirar os olhos da via. Os comandos ainda são bastante intuitivos, o layout é bonito e a qualidade do sistema de áudio é muito boa. Até os barulhinhos dos comandos executados na tela são bacanas, dando um ar de mais modernidade ao sistema.
O 208 ganhou algumas atualizações em estilo, coisas bastante pontuais, mas que serviram pra dar aquele frescor ao design. A qualidade do interior foi mantida. Um dos méritos da Peugeot é usar plásticos da cabine que mesclam texturas foscas peroladas, black piano e cromados na medida e na posição correta, não deixando a desejar em aparência e requinte nem em relação aos principais concorrentes (Onix e HB20) nem a alguns modelos mais recentes (Argo e Polo). Não bastasse isso, os bancos são bonitos e bem revestidos, mesmo oferecendo apenas tecido, e o belo teto panorâmico é seu principal diferencial, com o vidro ocupando a maior parte do teto. Dirigir com toda essa luz e podendo curtir, vez ou outra (porque a vontade é tirar os olhos do trânsito o tempo todo, mas não dá), as árvores, o céu ou a água da chuva sob o teto é gostoso demais.
Algumas coisinhas, no entanto, poderiam melhorar. Sua proposta não é ser familiar, vá lá, mas um pouco mais de nichos e porta-objetos mais bem posicionados nas portas não fariam mal a ninguém. Bem planejado sob o ponto de vista da ergonomia, ele fica devendo também comandos elétricos com one-touch para todos os vidros - só o motorista conta com o mimo. Por outro lado e falando nele, o motorista, a posição de dirigir é das melhores. Banco e coluna de direção tem ajustes de altura e distância, e o volante pequeno, de base achatada e aro grosso oferece pega excelente e, pelo menos para meu metro e noventa, não atrapalha nadinha a visualização dos instrumentos, posicionados de forma a serem vistos acima e não por entre o volante.
A dirigibilidade é um dos pontos fortes do 208. Mesmo com eixo de torção na traseira, o acerto da suspensão é digno de ser comparado a carros com sistemas independentes, tão boa é a relação entre absorção de imperfeições e desempenho em curvas fechadas ou abertas, lentas ou rápidas. A direção, que tem assistência elétrica, ganha peso mais que adequado em velocidade, o que deixa o motorista, que fica sempre bem acomodado ao volante, seguro para dirigir de maneira familiar ou esportiva, se puser o câmbio no modo S - guardadas as limitações da transmissão AT6 casada com o motor 1.6 16v, é claro. Afinal, desempenho esportivo de fato na linha só com o 208 GT, com motor 1.6 THP de 173 cv e câmbio manual.
O espaço interno é bom para 4, desde que os ocupantes da frente tenham no máximo 1,80m de altura. Os bancos totalmente recuados limitam um pouco o espaço para as pernas. O passageiro do meio do banco traseiro vai meio espremido, coisa comum a quase todo compacto (com exceção do Sandero e do Argo, os mais largos do segmento). Todos, porém, contam com cintos de segurança de 3 pontos e encostos de cabeça reguláveis. A segurança, aliás, é ponto forte no 208: além dos cintos e encostos a cabine conta com Isofix para fixação de cadeirinhas no banco traseiro e airbags frontais, laterais e de cortina. Só fica devendo os controles de tração e estabilidade, presentes em outros modelos do segmento, mas na linha 208 só no GT.
A lista de itens de série também é muito interessante. Além de tudo o que a gente já citou, ar condicionado digital dual-zone, sensores de luz e chuva, câmera de ré, porta-luvas refrigerado, rodas diamantadas aro 16 e repetidores de seta embutidos nos retrovisores estão incluídos no valor de tabela de R$ 70.490,00. Se quiser pintura metálica, incluindo a bonita Marrom Dark Carmin do carro testado, o comprador precisa desembolsar mais R$ 1.290,00. A cor Branco Nacré, perolizada, sai por R$ 1.690,00.
COMPENSA?
O 208 está quase na base do segmento de hatches compactos no que diz respeito às vendas. As 11.153 unidades emplacadas entre janeiro e novembro deste ano dão a ele uma média sólida em torno de 1.000 unidades vendidas mensalmente, mas esse número supera somente o do meio-irmão C3 e do Polo, lançado há 3 meses. Até o Fiat Argo, cujo primeiro mês cheio foi junho, já teve o dobro de unidades vendidas.
O preço do 208, no entanto, está bem na média do segmento. Mais em conta são os best-sellers Onix, que custa R$ 62.590,00 na versão LTZ automática, e o HB20, que sai por R$ 67.280,00 na versão Premium automática com bancos de couro. O GM tem menos equipamentos, acabamento mais simples e desempenho geral mais fraco, mas faz valer o preço mais em conta para se firmar no topo do ranking. Já o Hyundai traz como vantagens o bom acabamento e o bom desempenho, apesar do layout interno já cansado. Mais caros são os novos Argo, cuja versão Precision 1.8 automática completa sai por R$ 77.400,00, e Polo, tabelado a R$ 76.240,00 na versão Highline 200 TSI.
O Peugeot 208 se mostra um bom produto, então. Tem bom custo x benefício, boa lista de equipamentos de série, design ainda jovial, bom acabamento, desempenho parelho e upgrades que o tornam ainda competitivo. Sofre ainda, infelizmente, com o preconceito que paira sobre produtos franceses, tidos como frágeis mecanicamente e difíceis de manter. Não é fato: quem quer um hatch compacto estiloso pode encontrar no 208, especialmente nesta versão, um bom companheiro para a cidade e para viagens curtas.
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