Olho para as duas versões do Novo Jetta e lembro-me das inúmeras vezes em que tentei diferenciar gêmeos idênticos. Por fora há poucas diferenças entre um e outro: alguns cromados, rodas com desenho diferente, ponteira dupla. Olhos menos atentos certamente vão confundir. Por dentro é mais fácil saber quem é quem: o revestimento e o ajuste dos bancos são diferenciados, alguns equipamentos são opcionais para um e de série no outro. Mas se o básico estiver bem equipado, ambos voltam a se parecer muito.
A solução está no cantinho inferior da tampa do portamalas. A sigla TSI não somente distingue visualmente, mas dá todas as informações sobre o caráter de cada um:
- troca-se o bom e consagrado 2.0 8v aspirado pelo ótimo 2.0 16v turbo com injeção direta;
- o câmbio automático sequencial de 6 marchas dá lugar ao manual automatizado DSG com dupla embreagem, também de 6 marchas;
- a suspensão traseira com eixo de torção é substituída pelo sistema multilink.
Chaves na mão, coloco o lado emocional na frente e escolho o dono da sigla primeiro. Essas 3 letras revelam bem mais que um upgrade de versão: o comportamento do Jetta Highline é diferenciado em mais aspectos do que se imagina. Dentro do carro, antes da partida, percebo o ótimo acabamento da versão. Tudo muito bem encaixado, sólido, bem construído. Sóbrio sim, porque costuma ser padrão na VW, mas com ergonomia perfeita, tudo à mão. O sedã praticamente não tem opcionais; o básico está lá, bem como itens de segurança (6 airbags, ABS com ASR, vidros elétricos com antiesmagamento, sistema Isofix para fixação de cadeirinhas), de comodidade (ar condicionado digital dual-zone com saídas para o banco traseiro, bancos dianteiros com aquecimento, controle automático de velocidade, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, retrovisores rebatíveis eletricamente) e tecnológicos (computador de bordo, sensores crepuscular e de chuva, CD / MP3 player com entrada para SD card, tela touch-screen, disqueteira para 6 CDs, interface para telefonia celular com comando de voz e Bluetooth).
O sistema de direção eletro-hidráulico chega perto do que se pode chamar de “cirurgicamente preciso”: bem leve em manobras, macia e confortável na cidade e esportiva, com peso na medida certa, em alta velocidade. A suspensão também cumpre com excelência o seu papel, mantendo firme o carro em qualquer velocidade, mas com o conforto que se espera de um sedã de quase 90 mil reais. Isso proporciona ao motorista uma sensação superior de segurança – mérito do sistema de multibraços. Neste aspecto, ele consegue superar, além dos sedãs na mesma faixa de preço com os quais concorre (Fusion, Accord e Azera), também o antigo Jetta, que sempre foi tido como referência em esportividade no segmento. Além disso, o isolamento acústico muito bem feito e a excelência na qualidade construtiva do modelo praticamente isolam o condutor do que acontece lá fora.
Mas ainda que os sistemas de direção e suspensão mereçam elogios, a dupla motor / câmbio é a principal responsável pelo comportamento admirável do Novo Jetta. O casamento de ambos é simplesmente fabuloso. Os 200 cv gerados pelo trabalho conjunto do cabeçote de 16 válvulas e do turbo com intercooler impõem respeito, mas é a curva de torque praticamente plana (28,5 kgfm entre 1.700 e 5.000 rpm – o lag típico de turbinados é praticamente inexistente), associada às mudanças rápidas e suaves do câmbio automatizado DSG, que contam mais no desempenho. O resultado é a aceleração de 0 a 100 km/h em 7,3 segundos e a retomada de 80 a 120 km/h em meros 4,9 segundos. Os dados são de fábrica, mas é fácil supor, pelo furor das arrancadas, que a realidade está bem próxima desses números.
Deixo o Highline e assumo o volante do Comfortline automático. Confesso que, após ler muitas críticas sobre o motor 2.0 8v que equipa o modelo – o mesmo utilizado no Golf, Bora e Polo –, cheguei a criar expectativas negativas. Mas para o motorista comum, que espera de um sedã conforto, segurança, boa dirigibilidade e confiabilidade mecânica, e para quem o desempenho do Jetta Highline não é necessário, o Comfortline é um ótimo carro.
Há quem diga que 120 cv para um carro com 1.346 kg é pouco. E sempre bato na mesma tecla: potência, no dia-a-dia, é pouco importante – o que conta é o torque (18,4 kgfm a 4.000 rpm). Só para citar um exemplo, o motor E.torQ 1.8 16v da Fiat gera até 132 cv, mas tem pico de torque semelhante e numa rotação mais alta (18,9 kgfm a 4.500 rpm). O resultado disso é que, no Jetta, você consegue extrair o melhor do motor mais cedo, também graças ao ótimo acerto do câmbio – que faz as trocas em rotação bem baixa, com a clara intenção de melhorar o consumo. Neste aspecto o Jetta Comfortline não sai perdendo para nenhum outro sedã médio no trânsito diário.
Já na estrada, o câmbio de 6 marchas compensa qualquer déficit de potência. O sistema com trocas sequenciais trabalha bem em qualquer regime, procurando a marcha adequada sem incomodar o motorista. As trocas são absolutamente suaves e praticamente imperceptíveis, mas se o motorista quiser ficar no controle, basta efetuar as trocas manualmente na alavanca ou, opcionalmente, nos paddle-shifts. O acerto da suspensão nesta versão, mesmo simplificada, surpreende: no trecho de subida de serra que enfrentamos, cheio de curvas e depressões no asfalto, o Jetta Comfortline mostrou grande equilíbrio entre firmeza e conforto.
Quanto ao acabamento, repete-se a receita VW. É simplificado em relação ao Highline, com costuras diferentes no couro e menos equipamentos, mas está muito longe de ser “simples”. A excelente montagem se repete ali, com painéis bem encaixados e de boa textura. Há espaço suficiente para motorista e passageiro na frente. Atrás, 2 pessoas viajam com absoluto conforto e 3 com conforto relativo, ainda que não fiquem apertados.
Por pouco mais de R$ 65 mil o comprador leva a versão Comfortline com câmbio mecânico e por R$ 70 mil a automática. De série, ambos vêm com ar condicionado automático, CD / MP3 player com entrada USB e Bluetooth, travas elétricas no controle, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, sistema Isofix, retrovisores elétricos e aquecidos, computador de bordo, airbag duplo e ABS com ASR e EDL. Caso o comprador queira um Comfortline completo, ele desembolsará mais R$ 10 mil em equipamentos. A garantia é de 1 ano.
Vale a pena? Vale, sim. Pela qualidade construtiva, pelo conforto de rodagem, pelo espaço interno, pelo desempenho condizente com a proposta, pela confiabilidade mecânica. Há concorrentes com mais equipamentos e mais desempenho, mas um bom carro não é feito só disso; há quem prefira solidez, conforto e confiabilidade.
Com todo o respeito, pela minha avaliaçao o maior defeito do Jetta eh o design. Ele eh muito feio, desengonçado, totalmente transparente, passa na rua e ninguem nem olha. E carro se compra com o coraçao, depois vem a razao.
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