sexta-feira, 16 de maio de 2014

OTIMISMO EXAGERADO


ALTA RODA, Fernando Calmon


O aguardado primeiro plano estratégico quinquenal da FCA (Fiat Chrysler Automobiles) foi anunciado em Detroit, semana passada. Sergio Marchionne, presidente do grupo, não escolheu os EUA à toa para anunciar suas ambiciosas metas 2014/2018. Afinal, a antiga Chrysler LCC aproveitou bastante bem a rápida recuperação do mercado americano, que saltou de menos de 10 milhões/ano em 2009 para estimados 16 milhões este ano. Outra etapa crucial é abrir o capital na bolsa de Nova York, concluída a fusão Fiat com a Chrysler, até o fim do ano.


Para o Brasil, dentro da região América Latina, a FCA reservou atenção especial na apresentação mundial em Detroit. A Fiat, de fato, liderou as vendas internas em 11 dos últimos 12 anos e pôde gerar importante fluxo financeiro para a sofrida sede na Itália. Nova fábrica de Goiana (PE) começa a produzir no primeiro trimestre de 2015 o Jeep Renegade (Projeto 521), sem a companhia do Fiat 500 X, como acontece na instalação italiana de Melfi. Confirmaram-se, no entanto, dois novos produtos para 2016: uma picape média (Projeto 226) de construção monobloco para 1.000 kg de carga (Fiat) e um novo SUV/crossover (Projeto 551) na mesma arquitetura da picape para a marca Jeep, posicionado entre Renegade e Cherokee.

Esses três produtos da fábrica pernambucana têm maior valor agregado e são óbvios para alcançar retorno financeiro de um investimento pesado para atrair fornecedores de longe e capacitar mão de obra. Embora a Fiat ainda não confirme, o modelo subcompacto para combater VW up!, futuro Chevrolet e outros como Chery QQ, fica mesmo em Betim (MG), conforme a coluna antecipou. Rebatizado de Projeto X1H (antes 344), lançamento está previsto para o segundo semestre de 2015.

O objetivo do Grupo FCA na América Latina é passar de 900.000 unidades/ano (2013) para 1,3 milhão (2018), com papel preponderante para a Jeep – crescimento de 640% – na região. Já as outras marcas (Chrysler, Dodge e RAM) não cresceriam.

Analistas europeus foram mais céticos que os americanos quanto à expansão do grupo ítalo-americano, com sede na Holanda e domicílio fiscal na Inglaterra. Chamou atenção a FCA prever quintuplicar as vendas da Alfa Romeo e quadruplicar as da Maserati em apenas cinco anos. Deve-se notar que é a terceira vez que Marchionne decide relançar a marca Alfa Romeo, dessa vez do alto de um investimento de € 5 bilhões (R$ 15 bilhões) e oito novos modelos, todos de tração traseira ou 4x4.

A estratégia, em linhas gerais, está correta. Produzir focado em carros compactos gera margens insuficientes para se manter competitivo nos mercados mundiais. O duro é que lançamentos dependem de aceitação dos compradores, além de concorrentes terem investidos antes e do fato de manterem o ritmo.

No Brasil, principal mercado da Fiat no mundo, também há disputas que se tornarão ainda mais acirradas. As Quatro Grandes (Chevrolet, Fiat, Ford e VW) dominavam 98% do mercado de automóveis e comerciais leves em 1990; no primeiro quadrimestre deste ano caíram ao patamar mais baixo da história: 65,6%. E novos entrantes não param de chegar, com tendência de tirar vendas primariamente dos que lideram.

Otimismo com realismo talvez fosse o caminho mais seguro na consolidação de um novo grupo de atuação mundial.

RODA VIVA

NOME do SUV compacto que a Honda lançará em 2015, da nova fábrica de Itirapina (SP), não será Vezel (Japão), nem HR-V (Europa e EUA), este último já usado aqui no caminhão leve da Hyundai. Bem cotado, hoje: Urban (de Urban Concept, surgido no Salão de Detroit 2013). Marca mantém planos para um compacto mais barato que o Fit em 2016.

MERCADO interno caiu 5% no primeiro quadrimestre contra igual período de 2013. Produção cedeu ainda mais (12%), apesar de as exportações para a Argentina terem ajudado na recuperação de 56% no número de veículos vendidos ao exterior em abril sobre março deste ano. Estoques totais caíram de 48 dias 40 dias, mas ainda continua difícil animar compradores.

ESPAÇO interno é um ponto forte do novo Corolla. Na versão de topo, Altis, faróis de led realmente fazem diferença tanto na estrada quanto na cidade. Câmbio CVT de 7 marchas cumpre bem seu papel. Regulagem do banco (elétrica, no Altis) melhorou e o volante um pouco mais vertical ficou bom, embora não devesse ser ligeiramente enviesado num carro desse porte. Versão intermediária XEi tem a melhor relação preço-benefício, sem dúvida.

SEGUNDO a Abeifa (associação de importadores e fabricantes independentes), houve queda acentuada em 2014 nas vendas de modelos de menos de R$ 100.000. Entretanto na faixa até R$ 200.000 e, na seguinte, R$ 300.000 o mercado continua ascendente.

COMENTÁRIO de seguidor, na página desse colunista no Facebook, sobre o Dia Nacional do Automóvel (13 de maio): "O automóvel é o meio de transporte que revolucionou as "migrações". Imagine se ainda tivéssemos que fazer tudo a cavalo ou com carro de boi: haja material particulado, vulgo estrume!" Ambientalistas deveriam agradecer.

Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV. 

Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de mais de 100 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.

fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon

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