sábado, 11 de outubro de 2014

JAC T6 QUER ELEVAR O NÍVEL DOS CHINESES NO PAÍS



Temos, no Brasil, 17 opções de modelos entre sedãs médios e médio-grandes, nacionais e importados, que custam até R$ 100 mil. Não se pode pensar num segmento mais concorrido que este, com a alvoroçada classe média e seu poder de compra fazendo subir, a cada dia, os números de venda. Isso, até considerarmos que dentre SUVs compactos e médios há 18 modelos à venda por até R$ 100 mil. Qual era o segmento mais concorrido mesmo?

É neste balaio que a JAC Motors quer entrar com o SUV T6. E não pense que a ideia é somente jogar mais um galo na rinha; a marca quer tanto elevar o conceito dos chineses dentre o público quanto peitar, numa só jogada, os líderes Ecosport e Duster e os desejados ix35 e Sportage.



Tá, mas isso todo mundo quer. A questão é saber se o T6 tem cacife pra isso. Para descobrir, pedimos à JAC uma das pouquíssimas unidades que rodam no país para testes de adaptação e que foram importadas da China exatamente como são vendidas lá, e a avaliamos durante 10 dias. O SUV sofrerá modificações substanciais para adequá-la ao mercado brasileiro antes de seu lançamento oficial, que deverá ocorrer entre dezembro deste ano e o ínicio do próximo, mas isso não nos impediu de conferir seu potencial.



Se há uma coisa difícil de tirar da mente do brasileiro é a ideia de que produtos chineses não prestam. Mesmo com tanta informação disponível em revistas e sites, mesmo com a constatação de que hoje a qualidade construtiva e mecânica de muitos produtos chineses se iguala ou até supera a de certos carros nacionais, mesmo com o longo prazo de garantia dado pela JAC Motors para quase todos os seus modelos (exceção à T8), não teve jeito: era dizer que a T6 era chinesa e choviam perguntas relacionadas à durabilidade e manutenção do carro. Mas num ponto, pelo menos, o SUV calou a boca de todo mundo: o acabamento é excelente e superior a todos os demais chineses vendidos aqui.



O painel é claramente inspirado no do Hyundai ix35, mas não é uma cópia; tem personalidade. O volante igual aos dos demais JAC e a faixa contínua em tom prateado remetem a outros modelos da marca, como a nova J6 e a T8. Se não há material emborrachado no alto do painel, os plásticos não decepcionam, com boa textura e aparência. Tudo na cabine é bem montado, sem rebarbas. Os bancos da frente, em especial, são ao mesmo tempo confortáveis e envolventes, com adequada densidade da espuma. De forma geral, o interior do carro deixa uma sensação de requinte e modernidade semelhante à que encontramos em SUVs mais caros e bem superior à de Ecosport e Duster. E o revestimento de couro em 2 tons nos bancos e portas, que pensamos que seria o maior foco de polêmica, acabou agradando a todo mundo que viu.



É interessante também que a mistura de Coreia com Alemanha no design tenha surtido um resultado tão coeso. Grandalhão, ele é 6,5 cm mais comprido, 1,5 cm mais alto e 2 cm mais largo que o ix35, mas bem proporcional e nada desajeitado. A traseira à la Audi traz lanternas de led e luzes de neblina no para-choque - neste, destaque para a saída dupla de escape com molduras cromadas. Na dianteira não há leds, mas os faróis elipsoidais têm ajuste de altura (como em todo JAC). Mais que somente agradar, o T6 se impõe no trânsito e chama a atenção.



As dimensões avantajadas abrem espaço de sobra para 4 passageiros, com o quinto encontrando o apoio de braço embutido no encosto e um ressalto no assoalho. O porta-malas comporta 505 litros declarados, mas parece menor. O estepe de uso temporário virá também na versão definitiva, ainda que o espaço ali seja suficiente para um estepe completamente funcional. Perda desnecessária, já que a moldura do porta-malas poderia ser rebaixada para aumentar o volume de bagagens.



Bonito, bem acabado e bem equipado. A direção tem assistência elétrica com boa modulação entre manobras e velocidade. O ar condicionado é analógico, tanto nesta unidade quanto nas primeiras que serão importadas oficialmente, mas em breve o sistema será digital. 
O computador de bordo deixa a desejar, com poucas informações, consumo no padrão europeu (litros/100 km) e sem comandos no volante. Há um relevo no painel que faz pensar num sistema keyless com botão de partida, mas apesar de claramente previsto no projeto original, não se tornará realidade. E além de tudo o que todo JAC tem, o T6 traz os inéditos (entre os chineses) controles de tração, estabilidade, de saídas em rampas e de descida. A maior novidade, porém, será uma moderna central multimídia que permitirá o pareamento com o aplicativo Waze do celular do motorista, com visualização de vias na tela - no carro avaliado o GPS foi configurado em mandarim e não há mapas para as vias brasileiras.



Com tanta coisa a favor, o dilema do carro chinês joga contra. O público-alvo é bem diferente daquele que compra um chinês de baixo custo atraído por equipamentos de série; são muito mais exigentes, com maior poder aquisitivo e acostumados a produtos melhores. Para colocar o T6 à prova com esse tipo de consumidor, convidamos proprietários de 2 dos principais concorrentes do SUV da JAC, Duster e Tucson, para uma breve avaliação.

Dinamar Depret, de Vinhedo (SP), educadora e musicista, dona de um Renault Duster 1.6 ano 2013, logo de cara perguntou sobre os planos e valores de manutenção, se sentindo mais aliviada com os 6 anos de garantia dados pela JAC aos seus carros de passeio mas ainda assim ressabiada com a questão da revenda. Ficou impressionada com o porte e o design do SUV, e especialmente atraída pelo revestimento de couro em 2 cores, que "adorou". "Tem pinta de carrão", disse. Por ser chinês e pelo porta-malas pequeno para suas necessidades, porém, não compraria.



Samuel Gardin e seu filho Lucas Gardin, empresários em Valinhos (SP), por outro lado, gostaram tanto do T6 que perguntaram imediatamente sobre o preço (ficará em torno de R$ 75 mil). Na comparação com seu Hyundai Tucson 2010, acharam o JAC mais silencioso, espaçoso, estável e bem acabado. O layout do painel e da cabine, de modo geral, também agradou; é "inovador", segundo eles. Só lamentaram a ausência do motor turbo na versão que será vendida por aqui. "O desempenho impressiona pelo porte do carro", afirmaram.

Motor e câmbio foram realmente os 2 prinicipais atrativos do T6. O bloco 2.0 16v turbo produz 176 cv de potência e 26,9 kgfm de torque entre 2 e 4 mil rpm, mais que suficiente para garantir arrancadas vigorosas e retomadas seguras. É ruidoso nas acelerações, mas em velocidade o revestimento acústico bem feito assegura que seu funcionamento macio não incomode os ocupantes. O câmbio também contribui para isso, jogando as rotações para baixo em 6ª marcha na estrada. As trocas são um pouco crocantes, mas o escalonamento é adequado. Um novo motor foi preparado para o T6 "brasileiro", porém; será todo de alumínio, 2.0 16v VVT flex, com estimados 160 cv de potência usando etanol. O câmbio terá 5 marchas e não haverá opção de câmbio automático por enquanto. Deve ser adequado para encarar a concorrência, mas que é realmente uma pena não adotarem o turbo, isso é...



A JAC Motors lançou esta semana um vídeo no YouTube convidando o público a adivinhar o preço de venda do T6. Dentre os que acertarem a marca sorteará um J2. A promoção faz parte dos preparativos para o lançamento oficial do carro durante o Salão do Automóvel de 2014, que ocorrerá a partir do dia 30 deste mês no pavilhão de exposições do Anhembi, em São Paulo. Se a marca conseguir cumprir o planejado e mantiver o preço estimado em torno dos R$ 75 mil, será uma tacada certeira na concorrência. Porte e acabamento de coreano médio com preço de nacional compacto não são de se jogar fora.

Fotos: Maximiliano Moraes

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