sábado, 20 de fevereiro de 2016

RENAULT SANDERO R.S. 2.0 - AVALIAÇÃO


Por Maximiliano Moraes
Colaboraram Rodrigo Rego e Natália Mariotto
Fotos: Maximiliano Moraes




Ser o primeiro Renault brasileiro desenvolvido pela divisão esportiva da marca, a Renault Sport, é feito para constar na história do mercado automotivo nacional. Ser um esportivo de fato e não somente um modelo enfeitado, sem desempenho à altura, também é digno de nota. Mas o maior mérito do Sandero R.S. 2.0 não é institucional nem performático: é ser capaz agradar a um público muito maior do que você pode pensar.



Lado a lado com a versão Dynamique você percebe no R.S. um Sandero mais baixinho e invocado. A roupa esportiva inclui para-choques diferentes - o da frente conta com entrada de ar mais pronunciada, leds diurnos com molduras próprias, spoiler (que gera até 25 kg de downforce acima de 150 km/h) e a sigla R.S. bem abaixo do logo Renault na grade; o de trás com o espaço destinado à placa pintado de preto, aplique no para-choque simulando extrator de ar e espaço para a ponteira dupla e cromada do escapamento. Há ainda faixas adesivas na parte inferior das portas, saias laterais com o nome da divisão esportiva gravado, aerofólio sobre a tampa traseira e rodas de liga aro 17 (opcionais) pintadas em preto com desenho exclusivo, mais pneus 205/45.


A cabine também guarda suas peculiaridades. São diferentes, em relação às versões comuns do Sandero, a grafia dos instrumentos, os pedais de alumínio, alavanca de câmbio e volante (o mesmo do Clio RS europeu) revestidos em couro com costuras vermelhas, os bancos esportivos com desenho e revestimento exclusivo e outros detalhes, como os apliques em vermelho nos difusores do ar condicionado e o emblema da Renault Sport na base do volante.


Mas a altura menor é, justamente, o primeiro sinal de que há muito mais no Sanderão do que os olhos conseguem ver. O nome oficial do carro - Renault Sandero R.S. 2.0 - já sinaliza uma das principais mudanças. No lugar do motor 1.6 8v entrou o 2.0 16v F4R que empurra a dupla Duster / Oroch, com o mesmo torque (20,9 kgfm a 4.000 rpm, com etanol) e, graças a um coletor de admissão 20% mais largo e duto reposicionado para captar mais ar frio, 2 cv de potência a mais, chegando aos 150 cv. Com baixo peso (1.161 kg), a relação peso x potência ficou em bons 7,74 kg/cv.


Os sistemas de suspensão, direção e freios, bem como o gerenciamento eletrônico, também são novos. Para segurar o R.S. nas curvas a Renault colocou molas 92% mais duras na dianteira e 10% na traseira, além de barras estabilizadoras 17% mais rígidas à frente e 65% atrás, e buchas de poliuretano. Com isso, segundo a marca, a inclinação em curvas se tornou 32% menor. Para evitar os contratempos que podem vir com o entusiasmo, os freios agora são a disco ventilado na dianteira (280 mm) e a disco sólido na traseira (240 mm), com ABS, distribuição eletrônica de frenagem e auxílio à saída em ladeiras. Complementam o pacote os controles de tração e estabilidade, gerenciados pelo RS Drive.


O RS Drive é um botão na parte inferior do painel que fica junto aos comandos dos vidros traseiros e do controlador / limitador de velocidade. Ele é o responsável por acionar os 3 modos de condução. Na posição normal os controles de tração e estabilidade estão sempre atentos, bem como o gerenciamento de economia de combustível, com os indicadores de trocas de marchas acionados no painel. Apertar o botão uma vez é suficiente para acionar o modo Sport, que indica trocas de marchas mais esportivas (e, por consequência, menos econômicas), muda os parâmetros de funcionamento do motor para entregar respostas mais fortes e altera até mesmo o ronco do escapamento, que se torna mais grave. Para desligar tudo e ficar por sua própria conta e risco é só apertar e segurar o botão por alguns segundos.


A direção também recebeu um upgrade. Saiu o sistema hidráulico pesadão do Sandero comum e entrou um sistema eletro-hidráulico, de acionamento leve em manobras e com a progressão correta à medida que a velocidade aumenta, além de bem mais direta e precisa em curvas. O volante tem pega absolutamente perfeita e a posição de dirigir, apesar de a coluna de direção se manter regulável somente em altura, não é ruim. Ajudam, claro, os bancos esportivos com enorme suporte lateral, encosto alto e a sigla R.S. gravada nos encostos de cabeça.

Em movimento

O Sandero R.S. é bipolar. A carcaça herdada do Sandero convencional garante a ele a mesma praticidade. Além de todas as mudanças mecânicas e eletrônicas ele continua com boa oferta de espaço na cabine e no porta-malas, e manteve a lista de itens de série da versão Dynamique. Ar condicionado automático, trio elétrico, computador de bordo, alarme, sensor de estacionamento traseiro, central multimídia com GPS e Bluetooth, controlador / limitador de velocidade, repetidores das luzes de direção nas carcaças dos retrovisores e airbag duplo fazem parte do pacote.


Sua outra personalidade surge ao se virar a chave. O ronco do motor 2.0 não é escandaloso, mas grave o suficiente para que ninguém duvide de sua força. Primeira engatada, o salto à frente é decidido e nervoso; ele quer mais. Embreagem suave, câmbio curto e engates rápidos ditam a tocada; o R.S. "chupa" marchas como poucos. Entre uma troca e outra a rotação do motor não cai mais do que 500 rpm, mantendo o giro em cima e a força sempre presente. Não há um momento sequer onde se perceba falta de aceleração e até a sexta marcha é real, não apenas um overdrive.


A Renault divulga aceleração de 0 a 100 km/h em 8 segundos e velocidade máxima de 202 km/h. Não divulga dados de retomada de velocidade, mas durante a avaliação fizemos várias simulações - sem anotar dados, pela falta de condições ideais - de retomada em 3ª, 4ª e até 5ª marcha a partir de 40 km/h. As relações curtas e o torque abundante do motor 2.0 fazem o Sandero ser empurrado para a frente de forma decisiva em qualquer marcha, sem engasgos, sem tremeliques. E isso porque o incremento de força não foi tão grande...


Se o trabalho no motor foi discreto, nas curvas é que o Sandero R.S. confirma a competência da Renault Sport. Ele é fácil de ser dirigido até por quem não está acostumado a modelos esportivos. A suspensão é, de fato, mais dura que a do modelo comum, mas não a ponto de sacrificar quem opta por usar o esportivo no dia-a-dia. E na hora da diversão ele é obediente, quase neutro, e se o entusiasmo passar da conta - o que não é nada difícil - as babás eletrônicas estão ali para manter o carro na linha.


A contrapartida é o consumo nada comedido. Resolvemos estabelecer 3 rotinas para o Sandero R.S. durante o teste, com média final de 6,63 km/l:
- Na primeira, com o pé embaixo o máximo de tempo possível - sempre com segurança e dentro dos limites de velocidade, mas simulando arrancadas e retomadas em qualquer situação que nos permitisse -, a média de consumo não passou dos 5,5 km/l de etanol.
- Na segunda, dirigindo normalmente, sem preocupação com o consumo mas sem qualquer intenção de buscar esportividade na condução, o computador de bordo marcou 6,8 km/l de etanol.
- Na terceira, dirigindo de forma absolutamente econômica, respeitando ao máximo as indicações do shifter no painel e aproveitando o torque para rodar na marcha mais alta possível dentro dos limites baixos de velocidade nas cidades da região de Campinas (SP), o computador de bordo marcou 7,6 km/l de etanol.


Convenhamos, a proposta do Sandero R.S. não é ser econômico e quem compra um esportivo não está muito preocupado com isso. No caso deste Renault, alto consumo é o preço que se paga para ter características dinâmicas de gente grande. E olha que o preço sugerido no site é pra lá de apetitoso: são R$ 59.280,00 pelo modelo "básico", que traz rodas de liga com aro 16 e pneus 195/55 (que, em nossa opinião, ninguém vai querer). As rodas de liga com aro 17 e pneus 245/45 são o único opcional disponível, ao preço de R$ 1.000,00 o jogo, já calçado com os novos sapatos.


O concorrente direto do Sandero R.S. 2.0 é o Punto 1.4 TJet, mas além de custar, no site da Fiat, quase R$ 10 mil a mais, tem projeto mais antigo, dirigibilidade um pouco mais limitada, menos espaço interno e no porta-malas e menos equipamentos de série. O Renault entrega ao comprador ainda garantia de 3 anos. Para resumir: nenhum outro esportivo de verdade no Brasil hoje oferece tanto por tão pouco.

4 comentários:

  1. Ótimo texto. Ótima matéria. Me diga uma coisa: Já ouvi dizer que o Sandero RS, quando em 5° e 6° marcha, o ronco do motor invade a parte interna no veículo causando incômodo. Você que testou o veículo, sentiu esse incômodo?

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    1. Oi, Everson. Obrigado!

      O ronco do motor não muda significativamente em marchas mais altas se a rotação for a mesma. Não se pode esperar, claro, um nível de ruído semelhante ao obtido pelas outras versões do Sandero, especialmente porque o sistema de escapamento foi redimensionado para dar ao condutor uma experiência mais visceral ao volante, o que obviamente gera mais ruído na cabine. Mas, repetindo, se o condutor tirar a prova em 3.500 RPM, por exemplo, em qualquer uma das marchas ele vai encontrar níveis de ruído próximos.

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