Reportagem: Yuri Ravitz (Volta Rápida)
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Passamos por muitos eventos ao longo da vida, tanto bons como ruins, e é a partir deles que vamos moldando nossa forma de encarar o mundo. Interessante é que por mais que a gente se transforme durante tal processo, não perdemos nossa essência (ou raiz, se preferir). Com alguns carros acontece a mesma coisa; prova disso é o Jaguar XFR-S, versão mais nervosa do sedan britânico intermediário da marca e que traz um 5.0 V8 debaixo do capô com nada menos que 550 cavalos de potência e 69,3kgfm de torque.
A grande transformação do XFR-S em relação ao modelo que o originou (o XF "civil") é percebida logo de cara; o bodykit agressivo melhora a aerodinâmica, auxilia no arrefecimento da usina de força e confere personalidade própria ao super sedan. As rodas de 20 polegadas e seis raios ostentam acabamento em preto brilhoso e calçam pneus Pirelli P-Zero de medidas 265/35 ZR20 na dianteira e 295/30 ZR20 na traseira, além de mostrar os discos de 380mm na dianteira e 376mm na traseira.
O tom de azul da carroceria se chama French Racing Blue, e pode ser visto também na costura do acabamento das portas, parte superior do painel e nos confortáveis bancos com ajustes elétricos e duas posições de memórias (para os dianteiros). Aliás, são os únicos detalhes que se destacam pela coloração "ousada", pois todo o interior revela a essência luxuosa dos britânicos; predominam os materiais nobres como o revestimento de Alcantara em todo o teto, fibra de carbono e aço escovado nas folhas de porta e console central, tudo sempre em cores neutras puxadas para os tons mais escuros.
Falando de essência, o XFR-S traz pacote tecnológico com alterações mínimas em relação ao XF comum. Podemos destacar da lista de itens de série os faróis bi-xenon adaptativos com luzes diurnas/de posição conjugadas, setas e luzes de conversão estática (se acendem de acordo com a direção do volante, iluminando em curvas), tudo em LEDs, ar condicionado de duas zonas com saídas traseiras, sistema multimídia com tela sensível ao toque e navegação por GPS, bancos dianteiros e volante multifuncional com aquecimento e sistema de som Meridian surround. Alguns podem sentir falta de elementos como teto solar e Head-Up Display (HUD), mas o XFR-S agrada pelo ambiente sóbrio da cabine e pelo acabamento primoroso em todos os lugares.
Mecanicamente, o 5.0 V8 alimentado por compressor mecânico (supercharger) é o mesmo usado nos Range Rover Sport SVR e F-Type R. São 550cv de potência a 6500rpm e 69,3kgfm de torque a 2500rpm jogados somente para as rodas traseiras, e tudo controlado por um câmbio automático ZF de oito velocidades que permite trocas manuais pelos paddle shifters atrás do volante, ou mais agressivas pelo modo S no seletor giratório do câmbio presente no console central. Há dois modos de condução disponíveis, Trac DSC e Dynamic, que podem ser selecionados por botões de atalho rápido próximos ao seletor do câmbio. Enquanto o primeiro altera apenas o comportamento do controle de estabilidade (deixando o carro mais arisco, mas ainda seguro), o segundo transforma o XFR-S em um monstro difícil de ser domado, como se espera de qualquer V8 com tração traseira.
A partida é dada por um botão "pulsante" na parte inferior do console. Ao apertá-lo, o ronco abrutalhado e vigoroso do motor quase não pode ser ouvido do lado de dentro graças ao isolamento acústico de primeira, e os passageiros assistem a um pequeno "espetáculo" com os difusores do ar condicionado surgindo no painel. Interessante no XFR-S é que mesmo com sua suspensão mais rígida, rodas enormes com pneus de perfil baixo e força bruta de sobra, a condução em ambiente urbano é pacífica e não cansa o motorista. Mas não se deixe enganar; ao pisar fundo, você irá colar no banco e ver o britânico avançando com fúria total, enquanto o rugido do V8 não deixa dúvidas de que se trata de um supercarro.
O intrigante é o equilíbrio surpreendente do sedan, que não ameaça sair de traseira ou fugir do comando do motorista em momento algum, bem como a frenagem exemplar. Tudo isso, entretanto, é possível graças a eletrônica embarcada e dinâmica afiada, resultado de todo o trabalho de acerto do modelo feito diretamente nas pistas (incluindo o circuito de Nürburgring). No modo Dynamic, o XFR-S se comporta como um bom e velho muscle car americano, destracionando com facilidade e arrancando sorrisos (ou gritos de desespero) de quem estiver dentro.
Ele pode não ser o mais famoso ou equipado do segmento, especialmente porque a concorrência (leia-se o trio alemão) investe pesado no pacote tecnológico, mas isso não diminui seu poder de encantar. Mirando no público que privilegia o conservadorismo (mas que gosta de quebrar as regras de vez em quando), o XFR-S tem o poder de lhe fazer se sentir em um pacato XF durante a semana, ou em um furioso R-S aos sábados e domingos. Melhor ainda: se mostra uma alternativa interessante e igualmente veloz aos BMW M, Audi RS e Mercedes AMG, caso seu objetivo seja fugir dos padrões.
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