ALTA RODA, Fernando Calmon
O mercado
brasileiro de veículos vive uma fase de sinalizações de certa forma
contraditórias. As vendas estão em queda de 5,7% quando comparadas médias
diárias entre os primeiros quadrimestres de 2011 e de 2012. Os estoques totais
nas lojas das concessionárias e nos pátios dos fabricantes cresceram de 35 dias
para 43 dias, de março para abril deste ano.
A média
diária de vendas de veículos nos primeiros quatro meses de 2012 (período ampliado
de análise filtra melhor sazonalidades e feriados) situou-se ligeiramente
abaixo de 13.000 unidades, incluindo caminhões e ônibus. Portanto, será
necessário um aumento firme dessa média nos próximos meses para que resultado
final chegue ao crescimento entre 4% e 5% previsto pela Anfavea. A entidade
prefere esperar o fechamento do primeiro semestre para rever previsões.
Por outro
lado, a Fenabrave, associação das concessionárias, que trabalha suas análises
com suporte da consultoria MB Associados, acaba de rever a estimativa de
crescimento no ano para 3,4% ante 5,6%, em janeiro. A consultoria também prevê
aumento das importações, apesar do IPI mais alto. No entanto, isso não está
ocorrendo. De outubro de 2011 até o mês passado, a participação de mercado dos modelos
importados caiu de 25,3% para 22,6%, incluídos veículos argentinos que têm
maior parte de seu conteúdo de origem brasileira. Importadores de outras regiões
preveem queda de no mínimo 15% sobre o ano passado.
A maior
seletividade dos bancos para conceder financiamentos continua a atingir os
chamados modelos de entrada, em que há maior participação dos motores de 1.000
cm³ de cilindrada. Estes caíram para menos de 40%, exatamente 38,6%. Uma fonte
no mercado financeiro informou à coluna que será difícil redução maior na taxa
de juros porque o spread (diferença entre captação e aplicação por parte dos
bancos), no caso de veículos, já é relativamente baixo pela garantia que
representa o carro em caso de inadimplência. Ainda assim, como o índice de
atraso (superior a 90 dias) das prestações atingiu o recorde de 5,7%, continuam
exigências severas para aprovação dos cadastros nos financiamentos longos e sem
entrada.
É bom ficar
claro que todo o barulho do governo federal em torno dos juros surtiu pouco
efeito, até agora. As melhores condições são para compradores de menor risco,
que podem dispor de uma boa entrada, de 20% a 30%, e assumir até 36 prestações.
Bancos estatais têm participação discreta em financiamentos de veículos.
Acomodam-se e não apreciam trabalhar nos fins de semana, quando os “feirões”
são bancados pelas instituições financeiras.
Apesar de a
pulsação do mercado estar longe de oferecer emoções, o presidente da Anfavea,
Cledorvino Belini, acredita que o bom nível de emprego e a renda em crescimento,
além de algum impacto positivo das taxas de juros, reanimarão o consumo no
segundo semestre.
E a
contradição mais relevante vem do Índice de Confiança do Consumidor, pesquisado
pela FGV. Em abril atingiu 125,7 pontos (escala de 0 a 200; índice maior que
100 indica otimismo). São 4,9 pontos a mais em relação a março de 2011, quando
as vendas ainda bombavam. Vamos esperar pelo melhor.
RODA VIVA
AMIA, associação dos fabricantes
mexicanos, divulgou a cota de exportações em valores para o Brasil. Levou em
conta participação na produção do México e a média das últimas vendas ao País,
principalmente. Nissan recebeu a maior cota, seguida da Ford, Volkswagen, Chrysler/Fiat,
GM e Honda. Nada impede ultrapassar cotas, mas incidirá imposto de importação de
35%.
IMPACTO sobre as vendas de modelos
mexicanos aqui ainda não se pode avaliar com precisão. Tendência, porém, de a
Nissan ser a mais atingida. Afinal, volume de unidades que importa é bem maior
em relação aos modelos produzidos no Paraná. Graças à Chrysler, Fiat pode
administrar melhor o que pretende trazer de lá, em especial o subcompacto 500.
OPTIMA, da Kia, faz esquecer
completamente seu antecessor insosso, Magentis. Linhas se confundem com as de
marcas premium europeias. Materiais e acabamento encontram-se em nível próximo
àqueles sedãs. Motor 2,4 l/180 cv e câmbio de 6 marchas garantem bom
desempenho. Tudo por preço atraente entre R$ 97.000 e 106.000. Mas sensação de
solidez é discreta.
ANDAR no Audi A4 2013, na mesma semana
que o Optima, permite observar diferenças, além do preço: R$ 149.700. Sedã
alemão é mais equipado que o sul-coreano e oferece, por exemplo, controlador de
velocidade funcional em descidas. Motor tem mesma potência, porém torque é
quase 40% maior graças ao turbocompressor. Mais íntegro, sem dúvida.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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