ALTA RODA, Fernando Calmon
Extrapolar a
barreira de 400.000 unidades vendidas em um único mês, enquanto o crescimento
do País patina em torno de 0,5% ao ano, são dessas coisas típicas do Brasil.
Agosto, ajudado também por ser o mês mais longo do ano, com 23 dias úteis,
bateu recordes: 420.000 veículos (inclui caminhões e ônibus) comercializados,
28% acima de agosto de 2011 e 5,5% superior, no acumulado dos oito primeiros
meses.
A produção,
também recorde, de 329.000 unidades, no entanto, cresceu apenas 1% (mês contra
mês) e no acumulado, 7% de queda. Não é bom sinal por demonstrar que as
exportações em baixa deixam de gerar empregos aqui. Hoje, menos de 15% da
produção vai para o exterior, quando o ideal seriam 25%, no mínimo. Boa parte
da falta de competitividade deve-se ao real valorizado, mas os custos elevados
só agora começam a ser enfrentados com a anunciada expansão da infraestrutura e
menos impostos sobre energia elétrica. Anteriormente, a carga fiscal sobre a mão
de obra havia sido levemente aliviada.
A corrida às
lojas, na última semana do mês passado, se explica pelo receio do fim dos
incentivos. Afinal, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sempre negava a
possibilidade de prorrogação, embora acrescentasse que era sua posição “no
momento”. O desconto do IPI, em teoria, vai até 31 de outubro, porém continuará
mesmo até 31 de dezembro. A dúvida da coluna é se, em outubro, começará o
escalonamento da redução ou apenas no final do ano. Esse filme já foi visto e
dependerá do nível das vendas até lá.
O resultado
excepcional do mês passado vem, em parte, de demanda autorreprimida desde
abril, quando começaram rumores de que o IPI ia baixar. Essas manobras fiscais
funcionam melhor aqui porque o Brasil sofre a maior carga tributária sobre
veículos no mundo. A União perde alguma receita direta, de fato (Estados e
municípios, ao contrário, ganham). Mas graças ao feito multiplicador sobre o
crescimento da economia acaba recuperando com alguma folga.
Se as vendas
internas de veículos crescerem mesmo 5% em 2012, como a maioria dos analistas
admite, teria um impacto de até 0,7% sobre o PIB brasileiro, soma de tudo o que
se produz e consome. Portanto, além da qualidade dos empregos na indústria
automobilística (salários mais benefícios voluntários), o governo acaba sendo
pragmático: tem uma fórmula e sabe que funciona.
No cenário
de hoje, os estoques totais de 19 dias, no final de agosto, provavelmente são
os menores em nível histórico. Não é bom por diminuir as opções do consumidor e
seu poder de barganha na hora da compra. Na realidade, ocorre uma distorção
estatística, quando há súbitos movimentos de alta demanda, e agora em setembro
os estoques voltarão a subir.
Resta saber
o que acontecerá em 2013. O movimento de antecipação de compras este ano prejudicará
as vendas no próximo? Em geral isso acontece no exterior, em programas de
renovação de frota, ou mesmo aqui e agora com o mercado de caminhões, que
desabou depois das compras adiantadas de 2011. Os otimistas acreditam que o crescimento
do PIB do próximo ano dará sustentação ao mercado. Certo, a trajetória deve se
manter em alta. De quanto será, é cedo para prever.
RODA VIVA
NOVO Golf VII, à venda na Europa em
dois meses, utiliza recursos sofisticados de produção. Projeto, porém, prevê a
produção também fora da Alemanha, a preço competitivo. Isso coloca o México na
rota do carro, onde já se produz sua versão sedã, o Jetta. VW faz ainda o velho
Golf IV no Brasil e tem essa “dívida” no mercado brasileiro. Há chance de
resgatá-la. A confirmar.
NOME de projeto batizar o carro não é
comum, mas a Chevrolet optou pelo nome Onix (sem acento) para o novo compacto, a
estrear no Salão do Automóvel de São Paulo (24/10 a 4/11). Versão hatch
conviverá com o Celta, enquanto o sedã substituirá o Prisma. Também o SUV
derivado da S10 estará no salão: TrailBlazer, nome internacional, deve se
manter.
COINCIDENTEMENTE, pouco antes a Hyundai
também repetiu o nome do projeto HB no seu primeiro compacto brasileiro,
fabricado em Piracicaba (SP). Referência HB20 será utilizada nas outras duas
versões do modelo: o “aventureiro”, a se apresentar no salão; e o sedã, no
início de 2013. Na Índia, o sedã compacto se chama Verna, mas a denominação ficará
por lá mesmo.
ALÉM de anunciar venda, em 2013, do
novo EcoSport na Europa (sem dizer se produzido lá ou importado), Ford confirmou
o novo Mustang, em 2014, no Velho Mundo. Para tanto, ganhará refinamento mecânico
e linhas de aceitação mais internacional. O Fusion terá motor EcoBoost de 3
cilindros/1 litro, algo de fato inédito para um modelo desse porte.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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