ALTA RODA, Fernando Calmon
Depois de
longa espera e sucessivos adiamentos, finalmente saiu a regulamentação do novo
regime automobilístico brasileiro, a vigorar entre 2013 e 2017. Batizado
pomposamente de Inovar-Auto, traz estímulos fiscais e de política industrial na
direção de melhorar os carros fabricados no País. Enfoque se concentrou em patamar
tecnológico, economia de combustível, conteúdo de peças produzidas no Brasil
(Mercosul incluído), itens de segurança passiva e ativa, geração de empregos e
pesquisas com potencial de gerar inovações.
O programa é
bastante complexo, entre outras razões, para dificultar contestação em fóruns
como Organização Mundial do Comércio. Além de intervencionista e de eleger
vencedores e perdedores entre os que estão ou querem participar do mercado
brasileiro, deve-se reconhecer que os objetivos são importantes e, se
alcançados, representarão um grande salto de atualização.
O regime contempla
empresas que já produzem, apenas importam ou têm projetos de investimentos.
Todas, sem exceção, serão afetadas. Aquelas instaladas há mais tempo poderão
cumprir exigências de compras locais com maior facilidade. No entanto, a
estratégia de estimular novos fabricantes traz a competição como forma realmente
eficaz de alcançar preços menores ao consumidor.
Entre as que
pretendem investir, houve sensibilidade para atender marcas especializadas em
modelos sofisticados. Serão fábricas dimensionadas para até 35.000 unidades
anuais, com investimento mínimo de R$ 17.000 por veículo produzido. Haverá
índice (obrigatório) menor de compras internas e atrairá, de imediato, BMW e
Land Rover, com planos adiantados. Dificilmente, empresas como Audi e
Mercedes-Benz deixarão de aderir, mesmo porque existirão cotas sem o superIPI, hoje
incidente sobre modelos importados.
A grande
maioria dos importadores também terá cotas, sem IPI extra, proporcionais ao
volume médio comercializado entre 2009 e 2011, limitadas a 4.800 unidades/ano.
Terão, porém, de investir 0,65% do faturamento líquido em um fundo nacional de
desenvolvimento tecnológico, espécie de pedágio por usufruir do mercado interno.
Alívio para quem está no negócio, à exceção da Kia, que, sem produção local, enfrentará
dificuldades comerciais por seu volume de importações.
Um dos
pontos mais positivos são as metas de consumo de combustível. O governo foi
pragmático e deixou de lado as emissões de CO2, pois há equivalência
direta com o consumo. Compulsoriamente, a média dos automóveis de cada empresa
terá de diminuir 13,6% até 2017, até atingir a média (cidade-estrada) de 15,9
km/l (gasolina) e 11 km/l (etanol).
Há, ainda,
meta audaciosa, porém incentivada, com até 2 pontos percentuais de redução de
IPI para fabricantes que na média, entre 2017 e 2020, atinjam 17,3 km/l (gasolina)
e 12 km/l (etanol). A nova lei deixa dúvidas se o IPI menor deve se repassar
aos preços ou servirá de compensação aos investimentos.
Como ocorre no
exterior, carros econômicos são mais caros: não existe almoço grátis, quando se
fala de tecnologia, em geral. Assim, não acredite que a economia de R$ 1.100,00
por ano em combustível, no discurso do governo, seja efetiva, pois dependerá do
preço do carro.
RODA VIVA
RESULTADOS ruins de vendas em setembro
já eram esperados. Além da acomodação natural, depois dos volumes
estratosféricos de agosto, o mês passado teve menos quatro dias úteis. Assim,
os estoques subiram de 19 para 33 dias, o que diminuiu atrasos nas entregas de
alguns modelos. Exportações vão de mal a pior: Anfavea reduziu sua previsão em 2012.
ARQUITETURA do carro conceitual Active
Tourer, primeiro BMW de tração dianteira apresentado no Salão de Paris, vai
gerar até nove modelos diferentes da própria marca e da sua controlada, Mini.
Com certeza, um desses carros está nos planos de produção da fábrica
catarinense, conforme a coluna antecipou. Será futuro modelo de entrada, a preço
abaixo do X1 sDrive 18i.
NOVO Mercedes-Benz Classe B corrigiu
fraquezas anteriores. Mais baixo e largo, alcança ótimo coeficiente aerodinâmico
(Cx) de 0,26. Preço: R$ 115.900 a R$ 129.900. Motor turbo, 156 cv/22,4 kgf·m, e
caixa de câmbio automatizada (duas embreagens, sete marchas), no lugar da
insossa CVT de antes, formam bom conjunto. Faltam equipamentos, como
ar-condicionado digital. Agora, sistema eletrônico permite entrar e sair de
vagas.
MITSUBISHI trabalha para lançar, em
breve, primeira picape média com câmbio automatizado (monoembreagem), da
Magneti Marelli. Estará disponível na Triton com motor flex, quatro cilindros.
Fábrica detectou interesse por essa solução mais em conta que automático
convencional.
QUANDO a Chrysler cortou os preços de
seus produtos, recentemente, nada mais fez do que se antecipar ao que estava
previsto no novo regime automobilístico. Afinal, possuía informações sobre
cancelamento do superIPI. Não faltou quem suspeitasse de absorção de margens de
lucro, apontadas por uma revista americana de negócios.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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