sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

SEGREDO DO CONFORTO TÉRMICO


ALTA RODA, Fernando Calmon



Cada vez mais, novos modelos importados trazem de série o sistema start-stop (desliga-liga) que interrompe o funcionamento do motor quando o carro para. Basta levantar o pé do freio, em carros automáticos, ou acionar o pedal da embreagem, nos equipados com caixa de câmbio manual, para que o motor dê partida. Tal recurso permite economizar combustível e, nos casos de congestionamentos, pode significar entre 8% e 12% de alívio no bolso do motorista, nessas condições específicas.

Start-stop começou nos automóveis caros. Graças ao aumento de escala de produção e à necessidade de todos os fabricantes, por legislações internacionais, diminuir o consumo de combustível – e por consequência emissão de CO2 – já equipa mais de cinco milhões de veículos novos produzidos por ano. Tendência é de chegar a 40 milhões/ano em 2020.

Golf VII, por ora importado da Alemanha e depois nacionalizado, é o primeiro a oferecer esse recurso de série ao mercado brasileiro, entre modelos na faixa de R$ 60.000/70.000. Logo surgiram dúvidas se, em dias de calor (como promete este verão) e congestionamento, diminuiria o conforto dos ocupantes ao cortar o ar-condicionado. Todo start-stop pode ser anulado por botão no painel e o próprio sistema se autoprograma para não desligar o motor, no caso de carga insuficiente na bateria.

Fabricantes do equipamento afirmam que, na maioria dos casos, o carro não fica parado por mais de 15 segundos, em média. Assim, o conforto térmico seria pouco prejudicado. Em países de clima realmente quente, como o Brasil, o desliga-liga talvez não traga tanta vantagem como nos do Hemisfério Norte, afastados da linha do Equador.

A fim de mitigar bastante esse problema, a Delphi espera fornecer, já em 2014, uma solução acessível que permita poupar combustível sem comprometer a temperatura do habitáculo. Será mais barato e menos complexo do que um motor elétrico à parte, só para o ar-condicionado. Alguns minivans europeus já dispõem desse recurso.


Foi desenvolvido um novo evaporador (componente que resfriar o ar), com reservatório à parte, fabricado em Material de Fase Mutável (PCM, em inglês). Quando o compressor para de funcionar, o PCM se derrete ou se liquefaz, retirando calor das tubulações para manter a temperatura interna previamente ajustada, por exemplo, a 20° C. Funciona por um a dois minutos e volta a se solidificar, quando o motor do veículo aciona de novo o compressor e o ar é resfriado.

Todo o novo conjunto adiciona poucos componentes aos evaporadores atuais. Cria efeito de termossifão com o gás refrigerante já em circulação no sistema, sem partes móveis e simplificando a instalação. Há várias famílias de materiais com propriedades mutáveis e reversíveis. A empresa selecionou PCM feito à base de parafina por sua robustez, propriedades térmicas e confiabilidade em longo prazo.

Sistemas de ar-condicionado atuais aumentam o consumo de combustível em cerca de 5%. Este novo equipamento reduz a perda em 50%. Novo avanço está previsto para 2016: direcionar o fluxo de ar para partes do corpo dos ocupantes mais sensíveis à temperatura. Conforto térmico seria atingido sem a necessidade aquecer ou resfriar o volume completo da cabine.

Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV. 

Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.

fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon

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