sexta-feira, 30 de maio de 2014

JAC T8, A VAN QUE FALTAVA



- Olha lá, mano! Que carro da hora!
Cutucou o amigo no bar. Me deu um sinal de "joia" e gritou em seguida:
- Aí sim, hein!

Tive que abrir o vidro no trânsito várias vezes para falar sobre o JAC T8. Um senhor chegou a sair de sua rota (segundo ele mesmo), esperando que eu parasse para conversar comigo; perguntou tudo o que pôde. Parado num congestionamento na Anhanguera, uma senhora no carro ao lado, aos berros (como se estivéssemos andando), quis saber o preço. É interessante que uma van chame tanto a atenção, especialmente porque o desenho desse tipo de veículo não costuma atrair os olhos - eles são feitos para serem práticos, não necessariamente bonitos.



Mas a T8 é diferente e não é só tamanho. Nela, vários detalhes quebram a monotonia do design quadradão. Dois vincos, um que surge no para-choque dianteiro e segue o contorno dos faróis até a porta dianteira, e outro que começa nas portas corrediças, contorna os paralamas traseiros e segue até o para-choque, fazem lembrar o J2. Uma faixa negra surge a partir dos faróis e contorna todo o carro ao se fundir com janelas e colunas. A dianteira é marcada por grandes faróis, luzes de neblina emolduradas por cromados na parte inferior e uma imensa grade com 6 frisos cromados - na verdade, a parte superior da grade é a ponta do capô, disfarçada. Atrás, as lanternas têm desenho agradável. A régua cromada acima da placa e os olhos-de-gato no para-choque dão um toque de requinte, enquanto a parte superior mostra um ressalto que faz as vezes de aerofólio e abriga o brake-light e a câmera de ré. O único senão é o emblema da JAC, exagerado até para as dimensões da T8.



Desde o lançamento a redução de preço foi considerável. Anunciada por quase R$ 115 mil, hoje a JAC T8 é vendida pelo preço promocional de R$ 94.990,00 (até o fim de junho). Ainda não é pouco e fosse ela só tamanho e beleza talvez reclamassem do preço, mas a maxivan faz jus: é o modelo chinês mais requintado e bem acabado vendido por aqui. E tinha mesmo que ser, já que a meta da JAC é vendê-la principalmente para hotéis, locadoras e empresas que fazem transporte de executivos. Este, aliás, é o motivo de haver uma garantia menor do que a dos demais modelos da marca: são 3 anos ou 60 mil km rodados, com assistência 24 horas gratuita pelo período de 1 ano.


Levar pessoas é realmente o que a T8 faz de melhor, apesar de haver bom espaço nominal para bagagens (1.310 litros atrás da terceira fileira). Os 5,10 m de comprimento, 1,84 m de largura, 1,97 m de altura e excelentes 3,08 m de entre-eixos abrigam apenas 5 lugares atrás, formando uma verdadeira sala-de-estar para os passageiros. Mais privilegiados são os ocupantes da segunda fileira, que contam com poltronas individuais, totalmente reclináveis, com descansos para os dois braços e que viram completamente para trás. A terceira fileira não dispõe de nada disso, sendo um banco inteiriço com cintos de segurança de 3 pontos nas laterais e subabdominal no centro, mais 3 encostos de cabeça. Confortável, ainda assim, e como o restante dos assentos totalmente revestido em couro. Espaço para as pernas também não é problema, já que todos podem até cruzá-las.




Há 2 porta-copos escamoteáveis para os passageiros do meio, porém muito rasos, e 2 fixos nas laterais para os da terceira fileira; o do meio, que segure o seu. O sistema de ar condicionado digital tem graduação independente atrás e 6 saídas direcionáveis no teto. Se preferirem ventilação natural, os passageiros têm à disposição um amplo teto solar e enormes vidros laterais basculantes. É uma pena que não haja um sistema que permita o afivelamento dos cintos de segurança com as poltronas do meio viradas para trás, fazendo com que esta configuração só seja permitida legalmente com o carro parado.




Na frente, ainda que contem com espaço mais limitado, motorista e passageiro podem se divertir. A começar pelos bancos, com apoios de braço, aquecimento (desnecessário para o nosso clima) e ajustes elétricos de distância, regulagem do encosto e, para o motorista, de altura. A ergonomia é perfeita, com absolutamente todos os comandos à mão e a alavanca de câmbio mais próxima ao condutor. O volante, multifuncional e revestido em couro, tem regulagem somente de altura e abriga os controles do computador de bordo e dos sistema de áudio e telefonia. Na porta do motorista ficam os controles dos vidros, travas e retrovisores elétricos, além de um porta-objetos onde é possível acomodar uma garrafa (assim como na porta do passageiro), e à esquerda do volante estão a regulagem de altura dos faróis - que têm acendimento automático - e de intensidade da iluminação do painel. No console central, ao lado da alavanca de câmbio, há os comandos do ar condicionado e do aquecimento para os bancos dianteiros, e abaixo destes 2 porta-copos com tampa e mais um bom porta-objetos.


Há 3 coisas na cabine que merecem destaque. A primeira é a central multimídia com tela touch-screen. A definição é muito boa, a calibração da tela é eficiente e os comandos são intuitivos. Há entrada USB e auxiliar dentro do porta-trecos entre os bancos dianteiros, sem falar da entrada para SD card no painel e das 2 tomadas de 12 volts disponíveis. A qualidade sonora também é boa na frente e atrás, e apesar de haver poucas possibilidades de equalização, fazer isso é muito fácil e o resultado é bem satisfatório. Só não dá pra entender a ausência de GPS num veículo onde ele seria tão ou mais útil do que num carro de passeio comum, especialmente porque há outros modelos da JAC que contam com o aparelho como item de série. Outro senão é a visualização das imagens geradas pela câmera de ré, mas o problema não está na tela e sim na facilidade em sujar a lente da câmera.


O segundo destaque - infelizmente, negativo - vai para o computador de bordo. Os botões no volante deveriam facilitam o acesso, mas navegar pelas opções é trabalhoso e tira a atenção do motorista. Além do mais, a mensagem de alerta de manutenção periódica, mesmo necessária, irrita porque é impossível retirá-la da tela para conferir mais funções, como o consumo instantâneo, por exemplo. Outro problema é a marcação do consumo médio em litros a cada 100 km, padrão não usual para o consumidor brasileiro.


O terceiro destaque vai para o desenho e a iluminação do painel. Na T8 original chinesa que dirigimos ano passado tudo era bege, ao gosto chinês, e o velocímetro ficava no centro e não do lado do motorista, o que dificultava a visualização. O modelo vendido aqui teve o painel totalmente substituído, com acabamento bem melhor e aparência geral mais requintada, mostradores com grafia mais legível e iluminação num tom diferente de azul, mais suave e agradável que nos primeiros JAC vendidos aqui. Até a parte inferior da faixa contínua imitando madeira ganhou iluminação azul indireta, o que deixa a cabine bonita e com sensação de modernidade à noite.


Dos que me pediram informações sobre a T8, alguns torceram o nariz para o fato de não haver um motor a diesel disponível. "Imagina, van desse tamanho precisa ser a diesel!" - disse o motorista de uma Sprinter. Mas, quer saber? Não fez falta. A JAC equipou a maxivan com um propulsor 2.0 com turbo e intercooler, que gera 175 cv de potência e bons 26,51 kgfm de torque entre 2.000 e 4.000 rpm, além de câmbio mecânico de 6 marchas. O conjunto é mais que suficiente (e algumas vezes até surpreendente) para todo tipo de utilização. E o consumo também não foi tão alto pelo porte do carro: a média registrada no computador de bordo ao fim do teste foi de 13,2 l/100km, ou 7,58 km/l de gasolina, ponderando consumo em cidade e estrada, vazia e carregada.


Dirigir a T8 em todo tipo de condições de trânsito e clima causou uma impressão muito boa. Em várias situações ela não se parece com uma van, à exceção do nível de ruído - em acelerações, inclusive, o barulho do motor lembra bastante o de um movido a diesel. Na cidade ela impõe respeito e o seu porte exige atenção em qualquer manobra, mas na estrada o seu desempenho e a facilidade de conduzi-la fazem você se esquecer que está num veículo com mais de 5 metros de comprimento e quase 2 de altura. O trabalho que a JAC fez na suspensão é digno de elogios, especialmente na traseira - quem vai na última fileira costuma "quicar" muito mais em vans normais, mas não nesta.


Criei algumas situações para avaliar o comportamento da T8 carregada e comprovar a eficácia do acerto de suspensão. Numa delas chamei 5 amigos de Americana para assistir a um concerto na cidade de Atibaia, SP. Anhanguera, D. Pedro, trânsito das 6 da tarde em Campinas e 2 deles disseram nem ter sentido o tempo passar - justamente os da fileira do meio. Depois da apresentação algumas cantoras do musical pediram carona até os seus alojamentos, que ficavam a cerca de 300 metros do local da apresentação, por estarem com medo de perderem a voz por causa do frio intenso (e isso prejudicaria a récita do dia posterior). Aproveitei para ligar o aquecimento e ouvi mais elogios ao acabamento, ao espaço e ao conforto do carro - isso porque passamos por uma estrada de terra bem ruinzinha. Já na volta pegamos uma chuva torrencial: os pneus 225/60 R17 cumpriram bem seu papel, ajudando a manter a T8 estável e segura, e com os limpadores do para-brisa varrendo bem a água.


Mas a mais rica experiência foi com um amigo que pediu para dar uma volta com sua família: ele, a esposa, 3 filhos, a namorada de um deles e eu lotamos a maxivan. As reações falaram por si.
O filho do meio com a namorada:
- Vamos lá no fundo, dá pra gente ficar abraçadinho.
O filho mais velho numa das poltronas do meio:
- Aaaah, maravilha... Dá pra reclinar tudinho. Me acordem no fim, tá?
O filho mais novo, com 10 anos:
- CARACA, os bancos viram todos pra trás! CARACA, tem ar independente! CARACA, olha o teto solar! CARACA, olha que "da hora" aquela luz ali no painel!
A esposa:
- Olha, bem! Tem um lugar pra guardar trecos aqui e dá pra pôr garrafas nas portas!
O marido, completamente absorto, não respondeu a ninguém. Apenas apalpou o painel para sentir as texturas, testou o ar condicionado, sintonizou o rádio usando os comandos do volante, acessou as informações do computador de bordo, usou todas as marchas e ao término do "rolê" soltou uma única frase:
- Eu preciso de uma van dessa.

3 comentários:

  1. As linhas de design lembram muito da Nissan NV200, mas a Nissan me parece de um segmento mais compacto.

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  2. Eu ainda acho que deviam oferecer ao menos uma versão com o mesmo motor Cummins ISF2.8 usado no T140, e pelas pretensões luxuosas acho que um câmbio automático seria bem-vindo.

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  3. Minha cunhada adquiriu uma branca como essa das fotos, e está satisfeita com o veículo. Tem alguns detalhes que precisam ser revistos pela JAC, como por exemplo o computador de bordo que insiste em permanecer em Chinês, mesmo após ter sido configurado para o português. Ao se desligar a chave e religá-la, volta ao chinês. A Jac até o momento não tem uma solução para esse problema.

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