quarta-feira, 26 de outubro de 2016

HONDA HR-V EXL X CHEVROLET CAPTIVA 2.4 ECOTEC - COMPARATIVO


Por Maximiliano Moraes
Colaborou: Jean Maciel
Fotos: Maximiliano Moraes



É válido colocar 2 carros de porte diferente num comparativo? Num mercado como o brasileiro isso é bem possível. Isso porque o consumidor daqui, apesar de preferir um ou outro segmento, sempre olha o que o dinheiro dele pode comprar antes de considerar essa preferência; custo x benefício fala bem alto por essas bandas. Não raro, o dono de um sedã pode trocá-lo por um SUV, depois por uma minivan, passar por uma picape e terminar em outro sedã, só para citar um exemplo.



Esse foi o foco deste comparativo. Colocamos o Honda HR-V EXL, lançado em 2015 e com algumas mudanças em acabamento e equipamentos introduzidas na linha 2017, e o Chevrolet Captiva 2.4 Ecotec, única versão hoje disponível do modelo, que chegou aqui em 2008 com o torcudo motor V6. Fora o fato de serem SUVs não há praticamente nada em comum entre eles: um é compacto e o outro é médio; um tem motor 1.8 e o outro traz um bloco 2.4; um é líder de mercado e o outro é um dos menos vendidos em seu segmento; um conquista pelo design atraente e o outro tenta atrair pelo custo x benefício. É o preço que os aproxima: o Honda custa R$ 101.400,00 e o Chevrolet, R$ 108.190,00. E antes que você diga que a diferença é grande demais e por isso não faz sentido compará-los, o HR-V tem concorrentes diretos que custam cerca de R$ 12 mil a menos.



Em nossos comparativos costumamos dar pontos para os vencedores de cada quesito, mas este não vai ser assim. Por serem carros tão diferentes suas características serão sempre pontuadas, mas nunca comparadas. Ao final cabe a você avaliar o que é mais importante para o seu perfil e julgar qual deles seria melhor para a sua garagem.

Equipamentos


Painel do Captiva ainda segue linhas antigas da marca, mas é requintado

O Captiva custava, até há pouquíssimo tempo, pouco mais de R$ 106 mil e teve reajuste, mas não tanto. A lista de itens de série é bem recheada e traz coisas que o HR-V não tem, como sistema de monitoramento de pressão de pneus, botão ECO Mode para redução do consumo, 6 airbags, cobertura retrátil e rede no porta-malas, porta-óculos, retrovisor interno eletrocrômico, teto solar elétrico, partida do motor por controle remoto, bancos dianteiros com aquecimento e o do motorista com ajustes elétricos, amortecedores no capô do motor e rodas de liga leve com aro de 18 polegadas. Ponha mais R$ 1.700,00 no negócio e você leva pintura metálica.


Painel do HR-V é mais clean, mas é bem acabado como em todo Honda

Mas o HR-V não é tão desprovido assim de equipamentos. Só ele tem motor flex, retrovisores externos com rebatimento elétrico e o direito com tilt-down, lanternas traseiras em led, direção elétrica, ar condicionado digital, sistema brake hold (que mantém o carro parado em semáforos, por exemplo, sem que seja preciso ficar pressionando o pedal do freio), comandos dos vidros com one-touch para subir e descer (no Captiva só o do motorista tem, e só para descer), bancos com sistema de rebatimento ULT, 3 encostos de cabeça no banco traseiro e hill holder (auxílio de saída em rampas). A pintura metálica custa R$ 1.200,00.


Só o Captiva tem porta-óculos

O Captiva, no fim das contas, obedece melhor à sua proposta e oferece mais itens de conveniência, apesar de deixar a desejar em alguns itens de segurança básicos para um carro desse preço, como os encostos de cabeça no banco traseiro e o tilt down no retrovisor direito. O HR-V está longe de ser desconfortável, mas preferiu ser mais tecnológico. Peca por bobagens, como a cobertura simplória do porta-malas, o retrovisor interno com lingueta e a ausência de um simples porta-óculos. Assim, se formos olhar somente para a quantidade de equipamentos o preço mais alto do Chevrolet acaba justificado.

Conforto e praticidade


Espaço não é problema para o Captiva, que leva gente com mais folga na frente e atrás

Para quem espera um carro confortável tamanho é documento. O SUV da Chevrolet, com seus 4,58 m de comprimento, 1,85 m de largura, 1,70 m de altura e 2,70 m de entre-eixos ganha com (muita) folga do Honda, que tem 4,29 m de comprimento, 1,77 m de largura, 1,57 m de altura e 2,61 m de entre-eixos. Há mais espaço para ombros, cabeça e pernas de qualquer ocupante na frente ou atrás.


HR-V tem bom aproveitamento de espaço, mas não tanto para pessoas de maior estatura na frente. Bancos, porém, são melhores que os do Captiva

Mas calma lá, o HR-V deriva de um projeto que já foi desenvolvido para encontrar espaço onde não há. O Fit sempre foi elogiado por parecer muito maior por dentro do que suas dimensões externas fazem supor e não é diferente com o HR-V. O único senão é que para disponibilizar espaço para as pernas dos ocupantes do banco traseiro os dianteiros tiveram seu recuo limitado, o que é ruim para motoristas de maior estatura mas não para a maioria dos usuários. O porta-malas, aliás, parece mais "usável" que o do Captiva, que tem assoalho alto demais e caixas de roda que invadem demais o espaço. No Honda, que tem um vão mais limpo, é mais fácil colocar e retirar a bagagem.



Os dois têm boa quantidade de porta-objetos, mas o Captiva vai além com um imenso compartimento abaixo dos porta-copos entre os bancos dianteiros, sem falar no espaço menor escondido pelo descanso de braços. No HR-V também há um compartimento abaixo do descanso de braços, mas o console alto, visualmente bonito, esconde um nicho na parte inferior do painel, à frente, só acessível com algum contorcionismo e onde estão as saídas auxiliar e USB. Como se não bastasse não há, como existe no Captiva, um local definido para o celular, que fica solto no porta-copos ou escondido no nicho lá embaixo. Ninguém, porém, pode se queixar da falta de espaço para guardar outras bugigangas em nenhum deles.



Ambos têm bom nível de isolamento acústico. O Captiva parece mais sólido, talvez por ter componentes dimensionados para sua massa (muito) maior - são 1.742 kg em ordem de marcha, praticamente o mesmo peso bruto do HR-V (1.740 kg com carga total e 1.276 kg vazio). Por outro lado essa sensação de solidez desaparece em velocidades mais altas, com a carroceria do Chevrolet oscilando lateralmente bem mais que a do Honda, mais neutro. O HR-V também faz manobras com muito mais facilidade, tanto pela leveza do sistema elétrico de assistência à direção quanto pelo diâmetro de giro bem menor, além de contar com um conjunto menor de rodas e pneus (215/55 R17). O Captiva tem direção pesada, apesar de hidráulica, e diâmetro de giro de picape. Rodas grandes e pneus largos (235/55 R18) não ajudam. O bom é que ambos têm câmeras de ré.

Desempenho e dirigibilidade


Motor Chevrolet 2.4 Ecotec com injeção direta rende 184 cv e 23,3 kgfm

Os números dão vantagem para o Captiva. Afinal, são 184 cv e 23,3 kgfm de torque extraídos de um motor 2.4 16v com injeção direta movido a gasolina, que é, aliás, bem mais suave em funcionamento que o do Honda. O HR-V usa o mesmo motor que o Civic usava, um 1.8 16v flex que rende até 140 cv e 17,4 kgfm de torque, e que não é tímido na hora de mostrar aos ocupantes seu funcionamento em altas rotações. Na prática, porém, o alto peso do Chevrolet joga contra e o deixa atrás do Honda.


Motor Honda 1.8 VTEC flex rende 140 cv e 17,4 kgfm com etanol

A relação peso x potência do Captiva é de 9,46 kg/cv e a peso x torque é de 74,76 kg/kgfm. O câmbio automático de 6 velocidades faz trocas ascendentes e reduções com competência e suavidade, e permite trocas manuais por meio de um botão mal localizado no pomo da alavanca: outra vez mostra que sua praia é o conforto. O Honda, por sua vez é privilegiado pelas relações mais favoráveis entre peso e potência (9,11 kg/cv) e entre peso e torque (73,33 kg/kgfm). O câmbio CVT, que é menos letárgico, mais linear e ainda permite trocas manuais para as marchas virtuais por meio de borboletas atrás do volante, deixa o HR-V mais solto e o resultado não poderia ser diferente: acelerações e retomadas de velocidade em tempos menores.



Como se não bastasse, ainda que tenha pneus menores o Honda é bem mais "na mão" que o Chevrolet. Curvas de qualquer raio são contornadas com mais firmeza pelo HR-V, que é beneficiado pela progressividade e maior agilidade da direção elétrica, além de contar com um volante menor. Motoristas também encontram posição de dirigir mais adequada neste, que também tem bancos que abraçam melhor o corpo. E ainda que não seja um esportivo a sensação de cockpit criada pelo console central lança no HR-V a preferência dos que precisam de um SUV mas não abrem mão do prazer ao dirigir.



No Captiva a direção hidráulica, que é pesada em manobras, assume peso correto em velocidade. Mas a dirigibilidade é sabotada tanto pelo volante grande demais quando pela suspensão mais macia, que permite mais movimentos da carroceria em curvas e deixa os pneus "cantarem" mais cedo. Isso não afeta a segurança na prática, já que os controles de tração e estabilidade somados aos pneus largos deixam o SUV no prumo, mas a SENSAÇÃO de segurança é reduzida. A posição de dirigir também não contribui, já que, apesar de largo, o banco do motorista têm 3 defeitos imperdoáveis para quem gosta de dirigir: não conta com tanto apoio lateral, tem assento curto e com pouco apoio para as coxas e mesmo na posição mais baixa ainda permanece alto demais.

Design, acabamento e ergonomia


Captiva é mais clássico e mostra mais cromados

Covadia, diriam. Afinal o HR-V é um projeto bem mais moderno, lançado no Brasil em 2015, e suas linhas continuam modernas e atraentes. Na linha 2017 ele recebeu revestimento interno em material sintético que imita couro para toda a parte superior das portas e para o console central, e também em uma faixa no painel, volante, alavanca de câmbio e bancos. O design interno é mais clean e o acabamento é muito bom como em todo Honda, mas poderia haver mais variação de tonalidades ou texturas; com o tempo o monocromatismo enjoa.


HR-V é mais moderno e prefere superfícies com menos cromados

O Captiva chegou, como já dissemos, em 2008 e ainda não passou por modificações estéticas expressivas: a linha 2016 ganhou molduras plásticas nas portas, para-lamas e para-choques, além de rodas pintadas em grafite e novo revestimento interno para as portas, console e volante. Dentro ele mostra linhas e temas já envelhecidos, que aos poucos vão sendo substituídos em outros modelos da Chevrolet no Brasil, e há ainda alguns probleminhas de acabamento como um desnível acentuado entre o painel superior e a peça que comporta as 3 saídas centrais do ar condicionado e a central multimídia, ou parafusos aparentes prendendo os puxadores das portas. Por outro lado é ali que você encontra mais requinte à vista, com diferentes texturas, cromados, superfícies macias ao toque e plásticos brilhantes.


Destaque do HR-V: acendimento automático dos faróis

Quanto à ergonomia, o Honda leva a melhor. Além de o painel de instrumentos ser voltado para o motorista todos os comandos têm acionamento mais fácil, prático e intuitivo. Outra vez, a única coisa fora de lógica é a inclusão das saídas auxiliares no nicho abaixo do console central e este, por consequência, terminando pouco usado. O Chevrolet não pode ser classificado como ruim em ergonomia, mas com certeza é pior que o HR-V. Além do volante enorme, da falta do one-touch para os vidros e de um computador de bordo com comandos mais intuitivos, o painel não é voltado para o motorista. Como a cabine é maior, a distância até os comandos centrais - ar condicionado, áudio e multimídia - acaba maior também.

Consumo


Sistema "Brake Hold" elimina a necessidade de permanecer com o pé no freio em semáforos e congestionamentos

Nada mais irracional do que comparar o consumo de dois modelos com características tão diferentes. Por isso, tendo aproximado os dois por preço, resolvemos comparar não o consumo em si mas o custo por quilômetro rodado. Em 90% do tempo rodamos em circuitos urbanos, o que resultou em consumo mais elevado e conta um pouco mais alta, e pressupõe valores mais baixos para rodagem em percursos mistos ou exclusivamente na estrada.


Botão "ECO", voltado para a economia de combustível, é exclusividade do Chevrolet

O Captiva é movido somente a gasolina e, portanto, foi avaliado com este combustível. O computador de bordo marcou média de 11,9 litros a cada 100 km (padrão americano), ou 8,4 km/l pelos nossos padrões. Desta forma, tomando por base o preço médio da gasolina na região de Campinas (R$ 3,50), o custo por quilômetro ficou em R$ 0,41. É bom considerar ainda que a autonomia do Captiva (cerca de 613 km) é beneficiada pela enorme capacidade do tanque de combustível, que leva 73 litros.



O HR-V é flex, mas veio abastecido com etanol e só com este combustível o testamos. A média de consumo verificada pelo computador de bordo ficou em 7,3 km/l e o preço médio do etanol considerado foi de R$ 2,40. Com isso, o preço por quilômetro rodado ficou em R$ 0,33. A parte ruim é que a autonomia com etanol (cerca de 372 km) é muito pequena, já que o tanque de combustível não leva mais que 51 litros.

Mercado e Custo x benefício



A Fipe mostra desvalorização semelhante para os dois modelos no prazo de 1 ano, com alguma vantagem para o Honda. O HR-V perde 13,38% de seu valor, passando ao preço médio de R$ 87.834,00 para a versão EXL CVT. Já o Captiva 2.4 desvaloriza R$ 15,16% e, segundo a Fipe, após o período de 1 ano seu valor de mercado é de R$ 91.798,00.



A questão é que valor de mercado não é a única coisa que precisa ser considerada aqui. Os números de venda absurdamente maiores do HR-V, que em 2016 foi líder de mercado em quase todos os meses, o tornam melhor opção que o Captiva por apresentar também maior aceitação e liquidez: foram 43.969 unidades do Honda vendidas entre janeiro e setembro deste ano, contra apenas 984 unidades do Chevrolet.

É claro que o custo x benefício vai mudar de consumidor para consumidor. Se você quer um carro mais exclusivo, mais espaçoso, mais refinado, com boa oferta de itens de conveniência, menos visado e que ainda traga algum status pelo peso do nome ou pela imponência, o Captiva se mostra excelente escolha e merece ser considerado. Mas observando friamente o HR-V é um produto melhor. É mais moderno, mais econômico, mais bem visto pelo mercado hoje, tem lista de itens de série satisfatória, boa oferta de espaço e ainda conta com a fama de resistência que todo Honda carrega. Ainda que carro não possa ser visto mais como bem de capital, quem compra um HR-V perde menos e isso é condição primordial para muitos consumidores hoje em dia.

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