ALTA RODA, Fernando Calmon
A verdadeira invasão de SUVs compactos e crossovers no mercado — três modelos novos em menos de um mês — certamente terá impacto em outros segmentos. Na realidade, acrescentando outros dois nacionais (Ford EcoSport e Renault Duster) e importados como Chevrolet Tracker e Suzuki S-Cross, além dos chineses, haverá mudanças até certo ponto radicais.
Stations e monovolumes pequenos serão ainda mais atingidos, mas os próprios hatches e sedãs, tantos os compactos como os médios-compactos, perderão participação. O mercado está ávido por modelos com maior altura livre do solo e inspirados no modo “aventureiro”. Um fenômeno mundial, sem explicações racionais, em tempos de economia de combustível e preocupações com gás carbônico (CO2). Veículos mais pesados e altos vão na contramão do viés de “salvar o planeta”.
O 2008 é um típico crossover sem possibilidade de tração 4×4 e nem mesmo versão de entrada. Peugeot assumiu que o público prefere modelos completos e abandonou pacotes de opcionais. É o produto mais em conta (à exceção do Duster) ao partir de R$ 67.900 (Allure) e chegar a R$ 79.590 (Griffe). Como referência, um Jeep Renegade Trailhawk a diesel 4×4 automático, com tudo que tem direito, pode passar de R$ 140.000, se aparecer comprador disposto.
Em estudo meticuloso a marca francesa fez comparações com os concorrentes, inclusive precificando itens que estes dispõem e o 2008, não. Na planilha apresentada no lançamento sempre apareceu com menor preço em versões equivalentes, mas faltaram alguns itens como superfícies de plástico suave entre aqueles visíveis e suspensões independentes nas quatro rodas, entre os poucos visíveis. Também não se justifica eliminar encaixes Isofix (originais) para bancos infantis por uma diferença de R$ 100. Em manobras há avisos sonoros, mas é melhor câmera de ré.
Entre características bastante apreciáveis estão menor diâmetro do volante, o que permite leitura do quadro de instrumentos por cima dele e o teto panorâmico de vidro (Griffe somente). Tela multimídia colorida de 7 pol. inclui aplicativo para telefones inteligentes com funções extras. Porta-malas de 355 litros é maior em relação a EcoSport e Renegade, mas perde para os do Honda HR-V e Duster.
A engenharia fez um belo trabalho nas suspensões para conciliar estabilidade e um vão livre de 20 cm. Equipado com o primeiro motor turboflex — THP de 173 cv e 24,5 kgfm — em modelos pequenos (antes do up! que chega dentro de um mês), o 2008 Griffe faz jus ao título dessa Coluna. Por ser relativamente leve, pede passagem até a carros maiores: acelera de 0 a 100 km/h em apenas 8,1 s com câmbio manual de seis marchas. Há quatro modos de assistência à tração nesta versão mais cara, suficientes para uso leve fora-de-estrada.
A Peugeot garante que não há espaço físico para um câmbio automático de seis marchas no seu modelo de topo. Mas fontes asseguram que o de quatro marchas será totalmente substituído pelo de seis, já em 2016, em todos os compactos tanto da Peugeot quanto da Citroën, inclusive no motor aspirado de 1,6 L/122 cv. O câmbio automático atual foi recalibrado, tem modo econômico, mas deixa a desejar embora vá representar 70% das vendas, segundo prevê o fabricante.
RODA VIVA
LAND ROVER guarda uma surpresa para o início de 2016, quando inaugura fábrica de Itatiaia (RJ). Conforme a Coluna adiantou, o primeiro modelo a entrar em produção é o Range Rover Evoque, atualmente o mais vendido da marca no Brasil e no mundo. Alguns meses depois chegará a vez do Discovery Sport. Venda começa agora, importado da Inglaterra.
ANFAVEA assumiu que, pelas condições atuais da economia, os números de produção (com impacto direto sobre empregos), vendas e exportações em 2015 serão (bem) piores do que previa. Agora admite queda de 10% e 13,2%, respectivamente, para os dois primeiros indicadores. Restou apenas um dado positivo: mais 1,1% nas exportações.
ESTOQUES totais (fábricas e concessionárias) caíram de 50 dias em fevereiro para 46 em março, ainda em torno de 50% acima do ideal. Sindipeças prevê declínio de 11,5% no faturamento nominal de seus cerca de 500 associados. Durante a feira Automec, só setores de peças de reposição e manutenção confiavam na grande frota circulante para sopro de otimismo.
EXISTE equilíbrio de vendas entre versões do Cruze: 52%, sedã e 48%, hatch (Sport6). Em termos de câmbio, automáticos estão em 80% dos hatches e nada menos que 95% dos sedãs. Aperfeiçoamentos no automático aparecem claramente no uso cotidiano, em cidade ou estrada. Ambos muito agradáveis de guiar, mas suportes laterais dos assentos dos bancos dianteiros são duros.
INMETRO anunciará nos próximos dias a extensão do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE) a veículos leves a diesel. Picapes e SUVs de todos os portes terão índices de consumo de combustível para compradores conhecerem os mais econômicos. A GM deve, finalmente, readerir ao PBE, embora não 100% de seus modelos, o que só acontecerá em 2018.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de mais de 100 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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