Por Maximiliano Moraes
Fotos: Maximiliano Moraes / Divulgação
Versão Autobiography Dynamic é topo na linha Range Rover Sport |
Foi com o Sport que debutamos. O entusiasmo em dirigir pela primeira vez o legendário Range Rover se fundiu à dúvida sobre a real performance de um modelo que promete entregar o melhor dos 3 mundos: luxo, esportividade e capacidade off-road. Poucos minutos do primeiro contato com a suntuosa versão Autobiography Dynamic que nos foi cedida, porém, já foram suficientes para botar em cheque meu pragmatismo. Levei, digamos, um merecido tapa com luva de pelica, ou melhor, de Alcantara.
Primeira classe
Na cabine revestida com materiais nobres a cor predominantemente clara é ressaltada pela luz que chega pelo enorme teto panorâmico, que tem abertura elétrica, e pela ampla área envidraçada. O aroma convidativo de couro toma conta dos sentidos. Para fechar a espessa e pesada porta não é preciso violência; o processo é completado por sucção. Os ajustes elétricos dos bancos dianteiros e da coluna de direção são intuitivos, minuciosos e milimétricos, e contam com memória para 4 posições. Se estiver frio, bancos e volante podem ser eletricamente aquecidos; para o calor os bancos dianteiros contam com ventilação interna. Já acomodado, sinto-me mais confortável na poltrona do motorista do que se estivesse na primeira classe de um vôo internacional.
A experiência estava somente começando. Chave presencial no bolso, aperto o botão de partida uma vez e a tela de TFT à frente saúda mostrando um cluster que simula digitalmente velocímetro e conta-giros analógicos. Piso no pedal do freio, aperto novamente o botão de partida e o motor Supercharged 5.0 V8 de origem Jaguar desperta com um urro nada tímido, felino, ao mesmo tempo refinado e visceral. A lógica faz duvidar da agilidade de um gigante de 4,85 m de comprimento e 2.310 quilos, mas o ronco é justamente para lembrar que 510 cv de potência e massivos 63,8 kgfm de torque não estão ali para brincadeira. Por outro lado, o Range Rover Sport é dotado de uma finesse que permite que ele seja dirigido como um sedã de alto luxo sem problemas - e é digno apreciá-lo assim.
Se conduzido calmamente os ocupantes estarão praticamente isolados do exterior. O ar condicionado digital permite que até 4 passageiros escolham temperaturas diferentes para climatização. Há vidros duplos, isolamento acústico primoroso e um dos melhores, senão o melhor câmbio automático da atualidade (ZF, 8 velocidades) executando trocas imperceptíveis e mantendo os giros lá embaixo em velocidade de cruzeiro - são apenas 2 mil rpm a 120 km/h. Todo este zelo deixa os ouvidos livres para o som liberado pelos 23 (!) alto-falantes, subwoofer no assoalho e 1.700 w do sistema de áudio Meridian Signature Reference 3D.
A trilha sonora é executada sem qualquer distorção, como se estivéssemos na própria sala de concerto. Se a preferência for por um filme, um programa disponível pela recepção de TV digital ou um game, a tela Dual View dará ao passageiro da frente o benefício de acompanhar a programação enquanto o motorista permanecerá visualizando informações pertinentes à condução (como o GPS, por exemplo). Já os de trás contam com telas independentes embutidas nos encostos de cabeça dos bancos dianteiros e fones de ouvido wireless com anuladores de ruídos externos.
Mas o motorista não fica totalmente isolado. Podendo aproveitar boa música e uma boa conversa, ele relaxa selecionando a velocidade permitida no trecho e deixando que o carro a mantenha sem a necessidade de intervenção. O cruise control é adaptativo, freando o Sport caso o veículo da frente se aproxime além do razoável e acelerando até a velocidade escolhida para ultrapassar. Para tornar a viagem ainda mais memorável o Range Rover Sport oferece também praticidade. Na cabine há suficientes nichos e porta-objetos, incluindo uma geladeira embutida no console central dianteiro. Para a bagagem generosos 784 litros estão disponíveis no porta-malas, que conta com tampa com abertura e fechamento elétricos. E para facilitar as manobras o Park Assist pede apenas que o motorista controle a velocidade com o freio, contando com vários sensores (dianteiro, traseiro, de aproximação em pontos cegos e detector de tráfego em saídas de estacionamento perpendiculares, mais câmera traseira) para estacionar o carro de forma autônoma.
Transgredindo as leis
O passeio agora é solitário, mas nada enfadonho. Botão, rugido. Estrada vazia, câmbio em D, pé embaixo: com um sobressalto, a frente empina e o carro é lançado adiante de uma só vez, sem perda de tempo, sem pneus girando em falso. Primeira transgressão à lógica, o Sport vai de 0 a 100 km/h em parcos 5,3 segundos, o giro aumentando de forma absolutamente linear, o ronco do V8 ardendo pelas ponteiras do escapamento duplo. Segundo a Land Rover é possível chegar a 250 km/h com o Range Sport. E calma que a diversão não acontece somente em linha reta.
Curva à direita, depois à esquerda, a carroceria não inclina nem rola, os pneus não gritam. Instigado pela capacidade quase surreal de devorar asfalto do Range Rover Sport e tentando entender onde foi parar todo aquele peso trabalho com a direção de respostas diretas e precisas como se estivesse num hatch anabolizado. Estradas têm fim, porém, e aquela era curta. Mudo de pedal, pé embaixo outra vez e bloody hell, meus olhos quase saltam da órbita.
Não há nenhum novo princípio de física quântica incluído na fórmula. No Range Rover Sport o motorista (ou piloto, como queira) conta com o Torque Vectoring, uma sofisticada solução que permite aos diferenciais transferir torque do motor de forma independente para cada uma das rodas e, por assim dizer, "puxar" a frente do carro para dentro nas curvas. A suspensão a ar com amortecedores e barras estabilizadoras ativas, por sua vez, trabalha para compensar a inclinação e a rolagem da carroceria, praticamento anulando-as. À receita inclua pneus 275/40 R22 para elevar o grip a um nível inimaginável para um carro tão parrudo e com centro de gravidade elevado, mais freios Brembo com discos de 380 mm na frente e 365 mm atrás que justificam seu monstruoso poder de frenagem.
A evolução na dirigibilidade do Range Rover não se explica só pela quantidade de gadgets de auxílio à condução. O chassi é inteiramente novo, composto de painéis estampados, fundidos e laminados com 100% de alumínio - mesmo material usado para o bloco e os cabeçotes do motor, bem como componentes da suspensão. O extenso uso do metal tornou o Sport 420 kg mais leve, além de aumentar consideravelmente sua rigidez torcional e torná-lo 15% mais eficiente energeticamente e 24% mais econômico. Andar mais e consumir menos, afinal, é o mote da vez.
Legítimo off-roader
Terrain Response. Este é o nome do anjo da guarda do Range Rover Sport. A análise do terreno é feita automaticamente pelo sistema, mas, se quiser, o motorista pode selecionar o modo de tração manualmente por meio de um botão retrátil no console central. Da mesma forma a altura da suspensão, que em nível máximo perde um pouco em conforto mas não a ponto de incomodar. Pneus para asfalto não são empecilho para enfiá-lo na lama ou fazê-lo, se preciso, ultrapassar alagados com até 85 cm de profundidade, o que não é pouco. O Terrain Response pode inclusive, em casos extremos, enviar toda a força para uma única roda e frear as demais para evitar patinagem.
Perto da redação do blog há uma rua, em tese, sem saída. Em tese porque no seu fim há uma rampa de terra com inclinação de, pelo menos, 40º. Carros comuns não conseguem, obviamente, subir ou descer, menos ainda em dia de chuva. Mas naquele dia a garoa caía sem dar sinais de trégua. A rampa, escorregadia tal qual sabão. Apontei a frente do Range Rover Sport para o que, daquele ponto de vista, parecia um abismo. Avanço, logo notando a intervenção do controle de descida, e o gentle giant segue incólume e linear como se a rampa fosse uma leve ladeira. Resolvo retornar pelo mesmo caminho; dou a volta, seleciono a reduzida e, outra vez, o carro ignora a gravidade. "Fichinha".
Era preciso subir o grau de dificuldade. Um terreno em obras de terraplenagem surgiu para desafiar o Range Rover Sport. Tração e suspensão selecionadas, vou adiante com vidros abertos e ouço o barulho dos pneus lisos chafurdando no barro - ele, seguindo como se estivesse numa rua de cascalho molhado. Fato é que 90% dos compradores do Range Rover Sport jamais fariam o mesmo; sairiam do asfalto no máximo para enfrentar a pequena faixa de areia naquela praia exclusiva ou o curto trecho de terra até o local da cerimônia de casamento do melhor amigo. Ficam felizes, no entanto, de saber que podem contar com o Terrain Response para tirá-lo de encrencas eventuais da forma mais luxuosa possível.
Supra-sumo
Ele conseguiu. Feita a pergunta "Que carro você escolheria para passar o resto dos seus dias?", o Range Rover Sport certamente figuraria como uma das opções mais frequentes de resposta - seria a minha. Faz sentido questionar os predicados de um carro que quer agradar a todos, uma vez que para atingir o máximo em um quesito é costumeiro sacrificar outros. Mas o Sport quebra paradigmas, sendo verdadeiramente esportivo sem perder conforto, luxuoso sem ser fútil e off-roader sem ser truculento. Há um preço a pagar, certamente: a Land Rover sugere o valor de R$ 546.900,00 para a versão Autobiography Dynamic. Para poucos, sem dúvida. Mas nenhum centavo desperdiçado.
Supra-sumo
Ele conseguiu. Feita a pergunta "Que carro você escolheria para passar o resto dos seus dias?", o Range Rover Sport certamente figuraria como uma das opções mais frequentes de resposta - seria a minha. Faz sentido questionar os predicados de um carro que quer agradar a todos, uma vez que para atingir o máximo em um quesito é costumeiro sacrificar outros. Mas o Sport quebra paradigmas, sendo verdadeiramente esportivo sem perder conforto, luxuoso sem ser fútil e off-roader sem ser truculento. Há um preço a pagar, certamente: a Land Rover sugere o valor de R$ 546.900,00 para a versão Autobiography Dynamic. Para poucos, sem dúvida. Mas nenhum centavo desperdiçado.
NUNCA TEREMOS...
ResponderExcluirMas ,
quando eu me aposentar e vazar do Brasil sem
olhar pra trás...
quem sabe ?!