ALTA RODA, Fernando Calmon
Mais uma
rodada de resultados foi divulgada na semana passada pela organização não
governamental (ONG) uruguaia Latin NCAP. A boa notícia é que, pela primeira
vez, três carros fabricados e/ou vendidos no Brasil – dois da Ford, EcoSport
(brasileiro) e Focus (argentino); um da Volkswagen, Jetta (mexicano) –
receberam a classificação máxima de cinco estrelas em testes de colisão contra
barreira com uso de manequins. Alcançaram quatro estrelas Hyundai HB20,
produzido aqui, e Chevrolet Malibu, no México.
Dessa vez os
fabricantes patrocinaram todos os ensaios, incluindo fornecimento de veículos e
serviços da ONG. Mas é bom repisar: propósitos são nobres, métodos nem tanto. O
sistema de estrelas, bastante controverso, nem sempre reflete o conceito
correto de segurança. Carros construtivamente iguais recebem pontuação
diferente dependendo do critério de cada país. EUA e União Europeia mantêm
sérias divergências técnicas sobre o assunto.
Para avaliar
as distorções basta citar o próprio EcoSport, analisado ano passado como
4-estrelas. Seguindo as regras, a Ford adicionou só um aviso sonoro sobre uso
do cinto de segurança para o passageiro do banco dianteiro (motorista já
tinha), não fez nenhuma mudança estrutural por ser um carro recente, pagou o
teste e ganhou a estrela extra. O melhor custo-benefício em termos de
marketing, sem dúvida. O mesmo modelo produzido na Tailândia e exportado para a
Europa levou 4 estrelas no NCAP europeu (matriz do Latin NCAP). Alguns
critérios lá são diferentes, porém se apegam a firulas discutíveis na
classificação.
Outro
exemplo é o Malibu, automóvel médio-grande vendido também nos EUA, onde se
obriga há anos os avisos sobre cintos de segurança. O carro tem 10 airbags.
Recebeu quatro estrelas em segurança para adultos e apenas uma para bancos infantis.
Justificativa: “Os lembretes de cinto de segurança estão instalados; contudo,
não cumprem requisitos do Latin NCAP”. A entidade também se perdeu nas
explicações sobre o padrão Isofix para fixação desses bancos, ainda sem
homologação no Brasil. Em teoria, impede o uso aqui, mesmo o veículo tendo o
sistema.
Quanto à
Hyundai, ganhar mais uma estrela em menos de seis meses foi fácil. Bastou mudar
alguns tipos de material interno, nada de mudanças estruturais (nem daria
tempo), pagar o teste e receber a justa avaliação retroativa a todos os HB20.
Esclarecida a disponibilidade dos bancos infantis com Isofix, a classificação
aumentou de uma para três estrelas.
No senso
comum, a escala poderia ser péssimo, ruim, regular, bom e ótimo para as cinco
estrelas. O Latin NCAP acrescentou, recentemente, a nota zero-estrela para
carros que nem deveriam estar à venda. Dentro de alguns dias nenhum modelo
poderá ser fabricado no Brasil sem airbags e freios ABS. Assim, mesmo a grande
maioria de carros de menor preço alcançaria três ou quatro estrelas.
A tendência,
porém, é a ONG subir a barra. Já era tempo de o governo estabelecer novo
cronograma de exigências e parar de ser rebocado pelos acontecimentos. Afinal,
segurança tem preço, sim: airbag para pedestre (ente 100% vulnerável) está instalado em um único
modelo no mundo, o Volvo V40.
RODA
VIVA
PLANOS da Honda para nova fábrica em
Itirapina (SP) vão além do SUV compacto Vezel, recém-apresentado no exterior.
Contemplam, até 2016, um hatch para o segmento de entrada, abaixo do preço do
Fit. A empresa já estuda quem errou e quem acertou nesse importante veio de
mercado. E terá centro de desenvolvimento na nova unidade, em adição ao de Sumaré
(SP).
SEDÃ Chevrolet Classic passa a ser
produzido apenas em Rosário, Argentina, ao lado do Agile, em razão da acomodação
de vendas de ambos os modelos, lá e aqui. Sucessor do Cruze também será argentino.
Já no primeiro trimestre de 2014 a GM anunciará investimento pesado na sensível
unidade de São José dos Campos (SP), visando ao mercado promissor de
subcompactos.
RETOQUES externos e, em especial,
internos graças a novos materiais, como preto piano, dão fôlego para competir ao
minivan de sete lugares JAC J6. Motor de 2 litros/136 cv tem pouca potência,
mas torque é adequado ao peso e uso no dia a dia. Suspensões, macias demais, e
vão livre relativamente baixo dificultam passagem por valetas e lombadas fora
do padrão.
SERÁ bom observar o movimento de
fornecedores de turbocompressores no Brasil. BorgWarner já tem primeiro acordo
que, se espera, seja com PSA Peugeot Citroën para novos motores flex de três e
quatro cilindros. O grupo francês não poderá contar com as unidades produzidas
em colaboração com a BMW depois de 2016. VW deverá ser o segundo cliente.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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