Fernando Calmon
A iniciativa do Congresso em tornar obrigatório o uso de faróis baixos em rodovias (incluindo seus trechos urbanos) continua a ser discutível. Essa obrigatoriedade traz algumas vantagens secundárias, mas a soma de desvantagens, em países de baixas latitudes como o Brasil, chega a atrapalhar a segurança do trânsito. Não houve qualquer campanha pública prévia, apesar de o Denatran dispor de verbas polpudas para tal (5% dos R$ 8 bilhões do seguro DPVAT). Multas e pontos na carteira, porém, apareceram em todo o País.
Uma lei tão improvisada exigiu emenda às pressas, por ofício do Contran, na véspera de sua vigência. Os faróis DRL (sigla em inglês para luzes de uso diurno) passaram a ser permitidos. Os legisladores, além de desconhecer o acessório, não estavam nem um pouco informados sobre sua eficiência e possibilidade de evitar acidentes não apenas em rodovias, mas também no tráfego urbano. Sombras projetadas por prédios em dias de muito sol encobrem os veículos, como se fosse noite.
DRL (fileiras de LEDs de alta intensidade) ligam-se automaticamente logo após o motor entrar em funcionamento. Com intensidade de iluminação de 1.200 cd (candelas), específica para uso diurno, é tão forte que diminui quando o motorista liga os faróis, no pressuposto de trafegar à noite. Como permite diversos desenhos e se integra ao estilo dos carros modernos possibilita contraste inigualável, inclusive em favor das motocicletas, o tipo de veículo mais vulnerável em todas as situações.
O Contran afirma no ofício que “a maioria dos estudos sobre este assunto conclui que a presença de luzes acesas reduz significativamente o número de colisões entre veículos durante o dia”. Mas isso não é respaldado por um relatório técnico apresentado na Austrália, o país-continente cuja latitude é semelhante à maior parte do território brasileiro.
“O desempenho fotométrico de faróis comuns mostrou que a redução de acidentes é marginal, em uso diurno nas estradas australianas. Com o pavimento molhado pode produzir reflexos indesejados, pois os faróis baixos iluminam o solo logo à frente do veículo. Em dias de muito sol ou nublados também são pouco efetivos. Outras desvantagens: maior consumo de combustível, possível ofuscamento, lanternas traseiras permanentemente acesas e diminuição da vida de lâmpadas comuns, o que impede o motorista de circular à noite com apenas um farol ou lanterna traseira ligados”, afirma o relatório de 47 páginas nas conclusões finais.
Nos EUA, cuja latitude média é superior à do Brasil, faróis baixos durante o dia e DRL não são obrigatórios. O país tem 260 milhões de veículos em circulação (maior frota do mundo, seis vezes maior que a brasileira) e a segurança rodoviária aumentou muito naquele país, nos últimos anos.
Sem dúvida, DRL é a solução final e admitida como a melhor, inclusive pelo baixo consumo de energia. Trata-se, porém, de solução cara para os padrões brasileiros. Fabricantes de acessórios já oferecem essa opção por R$ 2.000 pela força da novidade. Regulamentação bem feita, prazos adequados e tendência de diminuição de custo dos LEDs deveriam estar na prioridade de legisladores, em vez de imposição arrecadatória de multas.
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de mais de 100 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
Disse tudo.
ResponderExcluirimposição arrecadatória.
E o brasileiro otário é que sofre.