sexta-feira, 7 de agosto de 2015

CHEVROLET TRACKER - AVALIAÇÃO




Olha a gente falando de SUVs de novo. Desta vez colocamos à prova o Chevrolet Tracker LTZ - versão única do utilitário compacto da GM - para tentar entender por que ele, atraente, bem equipado, bem acabado, gostoso de dirigir e de marca confiável para os consumidores, segue como coadjuvante no mercado.


Linha de cintura alta e rodas de 18 polegadas reforçam a imagem de esportividade do Tracker

Ainda que design seja uma coisa bastante subjetiva e atenda ao gosto de cada um, não há nada nas linhas do Tracker que o desabone. A linha de cintura alta e as rodas de 18 polegadas ajudam, aliás, a reforçar a imagem esportiva do utilitário. O interior, por sua vez, pode ser considerado um dos mais bem acabados dentre todos os Chevrolet vendidos por aqui, sendo superior até ao da grandalhona Trailblazer. Os painéis são bem encaixados, os plásticos têm boa aparência e são agradáveis ao toque, o layout é moderno e a cor clara amplia a sensação de espaço. Os bancos são muito bem forrados com couro em 2 tons e os apliques de alumínio no painel (mesmo, não são imitação) dão o toque complementar de requinte.

4 adultos viajam com conforto no Tracker...

...e encontram espaço suficiente para pernas, cabeça e ombros mesmo no banco traseiro

De espaço, aliás, os ocupantes não poderão reclamar. Os 2,55 m de entre-eixos tornam possível acomodar sem aperto 4 ocupantes, com espaço suficiente para as pernas, ombros e cabeça inclusive no banco traseiro. Os passageiros contam também com vários porta-objetos, inclusive 2 porta-luvas extras, sendo um deles ao centro, na parte superior do painel. Ruim é que para abrir espaço na cabine o porta-malas acabou sacrificado: são apenas 306 litros de capacidade.

Porta-malas comporta somente 306 litros...

...e pode ser rebatido, mas o processo é trabalhoso e o assoalho não fica plano

Sim, dá pra aumentar o espaço rebatendo os bancos traseiros (a capacidade sobe para 735 litros), mas o processo é um pouco chatinho. Com os bancos dianteiros totalmente recuados é impossível abaixar o encosto do banco traseiro, já que os apoios de cabeça não podem ser retirados. É preciso posicionar os bancos dianteiros em posição intermediária nos trilhos, no máximo, para que a operação seja possível e ainda assim o assoalho não fica plano. Ah, e o motorista grandão vai ter que pedir para outra pessoa dirigir.

Banco do motorista conta com ajuste lombar elétrico

Em movimento o Tracker agrada mais até do que imaginei. A posição de dirigir é boa e fácil de encontrar graças às muitas opções - o banco do motorista, além das regulagens padrão de distância e encosto, pode ser ajustado em altura e tem regulagem lombar elétrica, enquanto o volante multifuncional tem ajuste de altura e distância. Ao contrário da expectativa que trazem as rodas de 18 polegadas e a calibração durinha dos amortecedores, o rodar é macio e a suspensão é competente pra filtrar as irregularidades. Só em acelerações vigorosas o ruído do motor aparece com mais força, mas se conduzido normalmente o ronco é suave e até gostoso. Na estrada, vidros fechados, ar condicionado ligado e velocidade de cruzeiro, espere silêncio a bordo e conforto de rodagem que não deixa nada a desejar em relação aos concorrentes.


O caráter esportivo do Tracker surge quando a gente encontra uma rodovia mais travada, como a que liga as cidades de Valinhos e Itatiba. Nas curvas a direção hidráulica ganha peso correto e o carro encontra rapidamente seu ponto de apoio, sem desviar nem navegar. Nessa hora é que a gente entende pra que serve o ajuste firme da suspensão, que faz par com os bons pneus Continental com medida 215/55 R18. Para ser ainda mais divertido este GM merecia tanto um motor mais potente - o que seria um plus, já que o 1.8 16v de 144 cv e 18,9 kgfm de torque com etanol é suficiente para sua proposta - quanto um câmbio melhor.

Câmbio automático de 6 marchas conta com trocas sequenciais por meio de botão no pomo da alavanca

Ah, o câmbio... A transmissão automática sequencial de 6 marchas parece se dar bem com qualquer outro carro da marca, mas não com o Tracker. Ela aceita bem uma condução tranquila, quando as trocas ascendentes são suaves e praticamente imperceptíveis. Mas acelere para retomar velocidade e tenha paciência até que o câmbio entenda que você precisa de uma redução. Quando ele entender, vai reduzir 2 marchas de uma vez e lhe dar um tranco de brinde. Está numa descida mas não precisa reduzir velocidade? Esqueça, o câmbio entende que você precisa e reduz marcha mesmo assim, aumentando o nível de ruído interno. O fator diversão, que poderia ser aumentado se houvesse trocas sequenciais por meio de movimentos para a frente e para trás na alavanca ou de paddle-shifts atrás do volante, como em outros modelos, é substancialmente diminuído pelo botãozinho no pomo da alavanca, que obriga você a permanecer com a mão direita o tempo todo no câmbio e limita os movimentos do volante, já que só a mão esquerda fica livre.

Motor 1.8 16v é o mesmo do Cruze, mas se mostra mais econômico no Tracker

Para esquecer da frustração é preciso voltar para a realidade e dirigir o Tracker como um pacato SUV urbano. A redenção vem com o conforto de rodagem de que já falei e com uma economia de combustível surpreendente para um carro de 1.355 kg. A média na estrada, aferida pelo computador de bordo com velocidades quase sempre próximas a 120 km/h, chegou a 12,2 km/l de etanol, enquanto na cidade não fizemos menos que 9,5 km/l. Os 53 litros de combustível que o tanque comporta dariam, em tese, uma autonomia aproximada de 646 km ou até mais, caso a rodovia só permita velocidades menores.


Depois do lançamento da ruma de novos SUVs a partir da metade do primeiro semestre o ranking brasileiro foi bem balançado. Com os seus altos e baixos mas levando vantagem no noves fora o Tracker, ainda assim, permaneceu em segundo plano no mercado. Dentre os modelos com preço máximo perto de R$ 90 mil o mês de julho, último com vendas cheias, deixou o EcoSport, antigo líder, na terceira posição com 2.890 unidades vendidas. Assumiram a liderança os queridinhos HR-V (4.429) e Renegade (4.033). Só na quarta posição, bem atrás, ficou o Tracker (903), seguido pelo persistente ASX (800) e pelo 2008 (771). Isso porque não incluímos aqui modelos mais baratos, como o Duster - segundo do mercado em julho -, o Tucson e o T6.


Se a gente considerar que a maior parte do que se vende é de versões intermediárias, na comparação com os topo-de-linha o Tracker não se sai tão mal. Mas a análise fria revela justamente o que muita gente gostaria: uma versão mais em conta do GM - e isso até chegou a acontecer durante um tempo, com a versão Freeride, descontinuada. O problema com o valor sugerido no site para o Tracker (R$ 90.900,00) é ser alto para quem procura um SUV compacto. Quem tem essa bala na agulha geralmente tende a adquirir o que é novidade ou modelos maiores, como o ix35.

Computador de bordo é pobre em informações e central multimídia não tem GPS

Não que a lista de equipamentos seja pobre em si. Boa parte do que se espera está lá, incluindo câmbio automático, central multimídia, Isofix e computador de bordo. Existe um único pacote de opcionais que acrescenta airbags laterais e teto solar com acionamento elétrico, o que leva o preço, caso o cliente queira também pintura metálica, aos R$ 96.590,00. Só que esse mesmo valor supera o das versões de topo do HR-V (EXL CVT, R$ 91.900,00) e do EcoSport (Titanium 2.0 PowerShift, R$ 88.700,00), ficando somente o Renegade a gasolina com pacote semelhante um pouco acima (Longitude 1.8 AT, R$ 98.620,00).

O teto solar elétrico conta com 2 teclas de acionamento

Nessas versões os concorrentes trazem controles de tração e estabilidade de série, bem como assistente de partida em rampas, enquanto o Tracker não tem nada disso e ainda apresenta freios a tambor na traseira. Honda e Jeep têm freios de estacionamento elétricos e direção elétrica, o Ford tem sensor de chuva e todos têm GPS. O Chevrolet não tem nada disso mas, em tese, poderia ter. Há um sensor no alto do painel, perto do para-brisas, que poderia ser ativado como sensor de luz e chuva se a GM incluísse o software. Na partida a luz do Park Assist, presente em versões no exterior, se acende mesmo que o Tracker vendido por aqui não traga o assistente - ele se defende com a câmera de ré. Além disso a central multimídia MyLink permite a inclusão do GPS, como em outros modelos, e é lamentável que aqui a marca o tenha esquecido.


Existem outros deslizes que poderiam ser evitados no Tracker. O uso de estepe temporário é um exemplo; o espaço destinado é suficiente para um estepe plenamente funcional. O teto solar, por sua vez, conta com 2 teclas de acionamento, uma para abrir e fechar e outra só para bascular - uma única tecla seria mais funcional. Fosse mais barato talvez isso passasse sem incomodar, mas quem compra um carro de R$ 90 mil não perdoa. O problema do Tracker, então, não está no produto em si, mas na estratégia. Para ser realmente competitivo a GM deveria deixá-lo bem mais equipado e eliminar esses errinhos de projeto. O visual e a dinâmica ele tem, mas se a gente considerar que os SUVs estão de fato substituindo outras configurações de carrocerias como carros familiares é preciso ser mais prático e entregar mais mimos. Só uma gravatinha no capô não resolve.


Fotos: Maximiliano Moraes / Rodrigo Rego
Colaborou: Rodrigo Rego

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