ALTA RODA, Fernando Calmon
A importância da manutenção e suas despesas não é tão valorada quando se vai comprar um carro novo. À medida que o veículo roda, os custos sobem. Donos de modelos mais velhos tendem a negligenciar os gastos com oficina, até por limitações financeiras. Daí a importância da ITV (Inspeção Técnica Veicular) para a segurança do trânsito, obrigatória há mais de 15 anos. Apenas o Estado do Rio de Janeiro implantou um arremedo de ITV, malfeita e mal controlada. Acham que é melhor que nada...
Comparar custos de manutenção entre mais de 400 modelos (sem contar as versões) de 50 marcas disponíveis no mercado brasileiro é tarefa difícil e ingrata. Mas o Cesvi (Centro de Experimentação e Segurança Viária) se voluntariou a criar o seu IMV (Índice de Manutenção Veicular). Para tanto, incluiu itens de manutenção periódica – óleo, fluidos e filtros – e de manutenção preventiva – embreagem, amortecedores, velas, cabos, elementos de freios, pneus, palhetas e correias. Os conceitos estão certos, por evitarem a bem mais cara manutenção corretiva. Se negligenciadas, podem se tornar ameaça à segurança de todos.
Estabeleceu ainda parâmetros adequados, como os primeiros 100 mil quilômetros, e levantou valores médios de mão de obra em concessionárias de dez marcas por todo o Brasil. Quando não conseguiu o tempo-padrão de reparo, considerou 100 horas de manutenção naquela quilometragem e aí pode ter surgido a primeira distorção. O índice varia de 10 (até R$ 5.000 de gastos totais em 100 mil quilômetros) a 60 (mais de R$ 29.500) e contempla 86 modelos mais vendidos pelo (discutível) critério da Fenabrave (associação de concessionários).
O grande problema do IMV é desconsiderar que manutenção leva em conta também tempo, independentemente da quilometragem rodada, para itens como óleo do motor e fluido de freio. Outro equívoco foi estabelecer a média de 20 mil quilômetros por ano para seus cálculos. Consultadas pela Coluna, Chevrolet, Fiat e Ford (Volkswagen não respondeu) informaram que a média anual registrada é de cerca de 12 mil km. Os fabricantes estabelecem prazo de um ano para troca de óleo do motor, mas fazem ressalvas de quilometragem-limite e tipo de tráfego. A Volkswagen é a única que obriga a troca semestral de óleo do motor. Ford tinha essa política estranha, mas agora mudou para um esquema de troca semestral só nos seis primeiros meses de uso; depois, o ciclo vira anual.
Em alguns países já se adotou a troca de óleo bienal, favorável ao meio ambiente.
A tabela publicada pelo Cesvi traz outras distorções. Desconsidera, por exemplo, o dobro do número de vezes que um cliente Volkswagen tem que ir à oficina para troca de óleo rotineira, o que traz custos indiretos de tempo e deslocamentos. Os modelos mais bem classificados, nota 20, foram: Volkswagen Gol e Voyage 1.0; Chevrolet Celta 1.0; Fiat Uno e Fiorino 1.4; Toyota Etios hatch e sedã 1.5. Versões 1.0 do Uno, mais vendidas que as de 1,4 litro, nem estão na lista. Outro ponto intrigante: enquanto Renault Sandero 1.0 e 1.6 aparecem com nota 25, o Logan, que conta com mesma plataforma e conjunto mecânico, alcança índices melhores, 23 (1.0) e 24 (1.6).
O Cesvi é uma entidade séria, mas poderia estudar melhor os critérios, rever cálculos e aprimorar a divulgação para evitar dados incongruentes.
RODA VIVA
PREVISÕES de economistas na pesquisa Focus, do Banco Central, indicam queda de 2% do PIB brasileiro em 2015. Indústria automobilística, por sua extensa cadeia, representa 5% do PIB. Queda de produção (inclui exportações) e de vendas será em torno de 20% este ano. Ou seja, um ponto percentual do recuo da economia, em termos nominais, virá dos veículos.
DEFINIDOS os preços do Jaguar XE, sedã médio-grande inglês para atuar na faixa mais disputada de modelos de alta gama (A4, Classe C e Série 3, em especial). Começa em R$ 169.900 (2 litros turbo/240 cv) e vai a R$ 299.000 (3 litros V-6 compressor/340 cv). Meta de 600 unidades nos primeiros 12 meses, com plano especial de financiamento nas 33 concessionárias.
TANTO na versão de topo Titanium (2 litros/178 cv), quanto na de entrada (1,6 litro/135 cv), o Focus hatch 2016 mantém qualidades dinâmicas ainda melhores que antes. Em avaliação no cotidiano, motor de menor potência com câmbio manual dá conta do recado. No mais potente, câmbio automatizado (6 marchas) podia ter trocas mais rápidas. O carro é bem silencioso.
BMW superou objetivos com o evento itinerante Ultimate Experience. Só em São Paulo, mais de 750 testes de direção com 16 modelos da marca alemã. A linha M, de alto desempenho, representa aqui 4% das vendas totais contra 2% da
média mundial. Mais impressionante é o M4 Coupé: 431 cv, 56 kgfm, 0 a 100 km/h em 4,1 s. Joerg Bartels, especialista da divisão, veio ao Brasil.
EMPRESA de energia da Califórnia está pagando US$ 1.000 a cada um de 100 proprietários selecionados do elétrico BMW i3 para participar de um programa de 18 meses de “reeducação”. Única condição: licença para avisar que a recarga das baterias seja evitada em horários de pico. Nos EUA já há preocupação com eventuais problemas de início de noite. Mau sinal...
Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV.
Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de mais de 100 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.
fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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